quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

23 de maio: manhã do último dia em Viena e chegada em Praga

Encontramos Arabella e seu marido na saída pro Albertina. Tivemos uma conversa rápida, mas cheia de revelações, onde ela contou ser só um pouco mais velha do que eu e bem mais nova do que ele, a quem conheceu na ocasião em que foi seu professor. Aconselhou-me, brincando, a como manter um relacionamento duradouro. Segundo ela, era só tratá-los muito bem no início. “Depois, nem precisa tanto”, disse com aquele sotaque inesquecível, assoviando nos “th” das palavras.

Aproveitamos para nos despedir, pois só retornaríamos para pegar as malas e prosseguir para o próximo destino, que seria Praga.

Voltamos ao Frieraum para o café da manhã, onde pude conferir o banheiro modernoso que beirava o surreal, com diferenciação ininteligível entre masculino e feminino. Essa dúvida foi comprovada por um sujeito que entrou no feminino na hora em que eu saía.

A pia ficava no meio do banheiro, sem ser encostada em qualquer parede e era composta por uma bacia circular alta, grande e colorida, revestida com pastilhas de vidro e com um grande chuveiro no centro. Ele era ativado a partir de um sensor que não consegui identificar. Uma pena que eu não tivesse levado a câmera comigo. Acabei só registrando mesmo os pratos, que eram de estilos bem diferentes, o meu (breve intervalo natureba na dieta calórica) e o do Eduardo (firme no croissant com Nutella).



Fomos diretamente pro Albertina, um museu sensacional, onde havia uma exposição maravilhosa de desenhos de Bosch, Bruegel, Rubens e Rembrandt.


Estou postando algumas obras aleatórias, pois o museu vale o registro. Tivemos pena de termos reservado apenas a manhã espremida para visitá-lo.










Outro registro que vale a pena são estas esculturas engraçadas de macacos, que ladeavam o corredor de acesso ao museu...





Demos uma última volta pelo centro e retornamos ao Arabella Guesthouse para pegarmos nossa bagagem e seguirmos para a estação de trem, rumo a Praga.

Erramos a estação onde deveríamos saltar, pois havia duas com o mesmo nome inicial. Depois de alguns minutos perdidos e diante da reação naturalmente masculina do Eduardo ao se recusar a pedir informações, enfiei-me numa loja de flores próxima e me orientei em Inglês. Senti-me feliz em finalmente contribuir com a nossa localização, já que, desde Florença, eu tinha me rendido totalmente ao GPS natural do Eduardo e nem me esforçava mais em ligar o meu, que já nasceu avariado.

Chegamos na cabine com os lugares que reservamos pela internet, que estavam ocupados. Fiquei um pouco apreensiva, mas foi só chegar que os "penetras" saíram. Acho que é de praxe tentar a sorte, pois nem todos os assentos são reservados ou nem todas as reservas se confirmam.

Junto conosco, também viajou um casal espanhol, Javier e Silvia, que seguiriam até Budapeste e um casal brasileiro, que devia ter por volta de 60 anos. Todos muito simpáticos, mas praticamente só dava Javier hablando pelos cotovelos na viagem inteira. Ele era um tipo metrossexual europeu quarentão, enquanto a mulher loura, baixinha, fazia um tipo sexy discreta. Ela praticamente só concordava com ele, sorrindo. Na verdade, o sujeito falava tanto que não havia muito espaço pra ela que, quando complementava algum comentário do marido, logo tinha sua fala corrigida ou melhorada por ele. Deu uma certa pena.

A viagem seguiu-se praticamente toda ao som da voz do Javier, entrecortada pelo Eduardo, eu e o homem do outro casal brasileiro. A mulher parecia um tipo frágil, talvez até doente, que eventualmente fazia expressões de desconforto.

Demos uma pausa no falatório do espanhol pra almoçarmos no vagão restaurante uma massinha "marromenu", que era das poucas opções disponíveis, segundo um garçon muito mal humorado...



Sem problemas, pois logo chegávamos ao nosso destino, Praga, onde, depois de nos despedirmos de Javier e Silvia, saltamos do trem, junto com o outro casal brasileiro.

Já era noite, mas como o Eduardo já tinha estado em Praga para visitar seu amigo Sam, resolvemos pegar o bonde até o hostel, onde chegamos rapidamente.

O staff do One Hostel era muito prestativo e simpático. Nosso quarto ficava no primeiro andar e contava com cozinha e copa, além de uma pequena sacada. Pelo acesso wifi, o Eduardo entrou em contato com Sam, dizendo que já tínhamos chegado. Poucos minutos depois, ele retornou a mensagem, dizendo que já estava na recepção.

Finalmente fui apresentada ao Sam, de quem já tinha ouvido muito a respeito, pois é um dos grandes amigos do Eduardo. Ele nos levou a um restaurante próximo, onde comemos ótimos hambúrgures (estávamos morrendo de fome) e tomamos cerveja. Depois, demos algumas voltas pelos arredores, onde pude ver a famosa Petrin Tower, toda iluminada à noite.


Estava um frio danado e achei que fosse o motivo pelo qual as ruas estivessem tão desertas, mas o Sam explicou que aquele era mesmo o estilo de Praga. À noite, as pessoas que saíam estavam em bares que, apesar de serem muitos, não podiam ser muito bem percebidos do lado de fora. Esse foi um aspecto interessante de se perceber em Praga. Um jeito de ser que paira entre o discreto e o obscuro.

Sam nos levou até o albergue e combinamos de nos encontrarmos no dia seguinte, pouco depois do almoço. À noite, ainda iríamos a um concerto do pianista András Schiff no Salão Dvorák no Rudolfinum e, mais tarde, jantar com Sam e sua mulher, Yuggi.

Ou seja, fim de dia cheio com outro ainda mais nos esperando! Até mais!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

22 de maio: noite do terceiro dia em Viena, com tour Before Sunrise

Na noite anterior, o Eduardo já tinha feito pesquisas no mapa pra identificar os caminhos indicados pelo guia que havíamos baixado no celular, o City Walks. Ele trazia o roteiro feito pelo casal Jesse & Céline, de Before Sunrise. 

Um amigo disse que essa ideia de "fazer tourzinho de filme" era muito cafona e americano, mas devo refutar que, neste caso, o argumento não se confirma. Os dois personagens eram turistas em Viena e o roteiro não podia ser mais especial e charmoso. Além disso, havia a vantagem de poder ter seus principais pontos ser atravessado a pé.

Começamos pegando o tram próximo ao Museu de Belas Artes e saltando na Schottentor, estação situada no local de um dos antigos portões do muro da cidade de Viena.

foto da internet

Fomos em direção à Mölkerbastei, região onde Beethoven morou e trabalhou durante 8 dos mais de 30 que passou em Viena. 





Segundo o guia do City Walks, foi no Pasqualati-Haus que Beethoven compôs as Sinfonias número  4, 5, 7 e 8. Fomos lá pra conferir a fachada, mas o museu já tinha encerrado o expediente de visitas.





Seguimos, então, em direção à Igreja Maria am Gestade, cuja primeira referência data de 1158. Havia uma missa em curso, com muitos jovens participando. Infelizmente, não pudemos tirar fotos internas pra não atrapalhar a cerimônia, nem tampouco da parte externa, que estava em obras e, portanto, coberta.

Ainda que não estivessem no tour Jesse & Celine, aproveitamos também pra conhecer outros pontos imperdíveis no caminho, como a galeria Ferstel Passage e a Judenplatz.

Descobrimos a Ferstel Passage, também chamada de Freyung Passage por acaso, pois, até então, não a tínhamos visto em nenhum guia ou roteiro. No entanto, uma vez que se passe os olhos pela sua entrada, a atração é imediata. Trata-se de uma lindíssima galeria conectada ao Ferstel Palace, que foi construído por um famoso arquiteto austríaco, chamado Heinrich Von Ferstel, entre 1856 e 1860, para servir de sede de banco e casa de câmbio.




Infelizmente, não pudemos parar pra beber algo nos lindos cafés da galeria, pois já estavam todos fechados. Tivemos de nos contentar com o registro do estilo charmoso do lugar, inspirado na arquitetura veneziana. A Ferstel Passage culminava num pátio interno com domo hexagonal vítreo, que banhava de luz a graciosa Donaunixenbrunnen: algo como fonte da sereia do Danúbio.




Seguimos, então, para a Judenplatz, que abrigou uma das maiores sinagogas da Europa, destruída durante o Pogrom de 1421.

No centro da praça, fica o monumento aos 65.000 judeus austríacos mortos na Segunda Guerra. Primeiramente, achamos o estilo da obra de Rachel Whiteread muito pesado e duro. Observando melhor e lendo os textos explicativos, entendemos que o bloco se tratava, na verdade de prateleiras de livros que representavam as vítimas e sua cultura, que havia sobrevivido à morte e tragédia. Gravados no chão em volta do bloco, havia os nomes dos 41 locais austríacos onde se deram aquelas mortes.




Em frente ao monumento, do outro lado da praça, pode-se ver a estátua de Lessing, autor alemão de origem judaica que, entre outras obras, escreveu a peça “Nathan, o Sábio”.


De tanto que havíamos andado, já estávamos sem noção da nossa localização em relação a outros pontos de referência na cidade e, quando nos demos conta, estávamos novamente ao Centro Histórico. Foi ótimo pra tirar mais algumas fotos, pois aquela luz tão especial de anoitecer na Primavera (na verdade, já passava das 7 horas da noite) parecia coroar nossa última noite em Viena.



Resolvemos desviar novamente do Centro, pra continuar o percurso pelos locais ainda não conhecidos por nós. Foi quando encontramos mais um ponto do tour “Before Sunrise”. Era o Kleines Café, que serviu de locação pra uma passagem bem interessante, onde Jesse & Celine encontravam uma cigana.



 Depois, andamos em direção a uma das locações mais interessantes do filme, que é uma das fachadas do Museu Albertina. Pra isso, subimos sua charmosa escada...



...e tiramos fotos tanto na base do monumento ao imperador Franz Joseph I,...


...quanto da linda sacada do Albertina.


Rodeamos o museu, que decidimos ser nosso destino de visita na manhã seguinte, e encontramos mais um lindo parque urbano. Mesmo com o friozinho decorrente da saída do sol, havia vários grupos em seus gramados e bancos. Nada mais justo, pois, se pra nós, naquele início de noite, Viena estava sendo um deleite arquitetônico para os olhos, imagino pra quem estava naquela perspectiva estratégica do parque.







O fato de ser a última noite que passávamos em Viena, nos fez arranjar fôlego pra andar ainda mais, até o anel da rua Spittelberg. Pudemos conferir como ela era repleta de restaurantes e cafés simpáticos e ficamos com muita pena de tê-la descoberto no fim da viagem. Se soubéssemos que a região era tão charmosa, teríamos sugerido algum local daqueles pra despedida da Bruna, que faríamos mais tarde.




E, pra fechar com chave de ouro nossa versão particular do tour Jesse & Celine, demos uma paradinha estratégica pra descansar no Café Sperl


Enquanto o Eduardo tomava seu expresso e eu um chocolate quente, lembramos de algumas cenas do filme, que tiveram aquele local por cenário: um americano comentava inflamadamente com sua mulher que o serviço era muito fraco. Dizia “na América, seriam despedidos”. Os protagonistas, por sua vez, tinham um diálogo bem interessante, onde cada um fingia fazer o relato do outro, ao telefone, para seus respectivos melhores amigos.


Pedimos as bebidas junto com a conta, pois tínhamos de correr pra não perder a hora marcada com a Bruna. Na direção do Naschmarket, local onde marcamos, passamos pelo lindo Museu Secession, pra quem ficamos devendo uma foto que fizesse mais jus a sua beleza, além de uma visita. Fica pra próxima.



Chegamos a nos perder um pouco na direção do Naschmarket. Sugeri ao Eduardo que fugisse à regra universal masculina de nunca pedir informações e que se orientasse num restaurante perto. Ele concordou, mas, num toque de rebeldia, fez a pergunta em Alemão, pra poder treinar. O único problema é que o Alemão deve ter sido tão bom, que aparentemente convenceu a garçonete de que ele falava o idioma de fato. A moça respondeu também em Alemão, em frases bem longas, às quais o Eduardo reagiu com “cara de conteúdo”. Quando eu questionei o que ela havia informado, recebi a resposta “disse que estamos perto”. Rsrsrsrsrs.

De fato, não estávamos longe e, 10 minutos depois, encontrávamos a Bruna e seu amigo Pedro num dos restaurantes do Naschmarket, que segue o conceito da Cobal carioca, embora bem maior e mais descolada: um mercado com bancas de produtos hortifrutigranjeiros durante o dia, que se transformam em restaurantes cool à noite.

foto da internet

O Pedro era um rapaz espanhol muito simpático, que havia trabalhado com a Bruna. Ele entendia e falava Português perfeitamente e a noite foi de ótimo papo. Infelizmente, acabei esquecendo-me de não tirando nenhuma foto do nosso grupo. Imperdoável!

Voltamos todos juntos, na direção do metrô e nos despedimos da Bruna, deixando combinado um próximo encontro no Brasil, na próxima vez em que ela fosse visitar o país. O único risco é que ela quer vir na Copa, quando eu e Eduardo desejamos estar bem longe do Rio de Janeiro! Quem sabe estaremos em Viena? Vontade é que não falta!