quarta-feira, 3 de julho de 2013

22 de maio: noite do terceiro dia em Viena, com tour Before Sunrise

Na noite anterior, o Eduardo já tinha feito pesquisas no mapa pra identificar os caminhos indicados pelo guia que havíamos baixado no celular, o City Walks. Ele trazia o roteiro feito pelo casal Jesse & Céline, de Before Sunrise. 

Um amigo disse que essa ideia de "fazer tourzinho de filme" era muito cafona e americano, mas devo refutar que, neste caso, o argumento não se confirma. Os dois personagens eram turistas em Viena e o roteiro não podia ser mais especial e charmoso. Além disso, havia a vantagem de poder ter seus principais pontos ser atravessado a pé.

Começamos pegando o tram próximo ao Museu de Belas Artes e saltando na Schottentor, estação situada no local de um dos antigos portões do muro da cidade de Viena.

foto da internet

Fomos em direção à Mölkerbastei, região onde Beethoven morou e trabalhou durante 8 dos mais de 30 que passou em Viena. 





Segundo o guia do City Walks, foi no Pasqualati-Haus que Beethoven compôs as Sinfonias número  4, 5, 7 e 8. Fomos lá pra conferir a fachada, mas o museu já tinha encerrado o expediente de visitas.





Seguimos, então, em direção à Igreja Maria am Gestade, cuja primeira referência data de 1158. Havia uma missa em curso, com muitos jovens participando. Infelizmente, não pudemos tirar fotos internas pra não atrapalhar a cerimônia, nem tampouco da parte externa, que estava em obras e, portanto, coberta.

Ainda que não estivessem no tour Jesse & Celine, aproveitamos também pra conhecer outros pontos imperdíveis no caminho, como a galeria Ferstel Passage e a Judenplatz.

Descobrimos a Ferstel Passage, também chamada de Freyung Passage por acaso, pois, até então, não a tínhamos visto em nenhum guia ou roteiro. No entanto, uma vez que se passe os olhos pela sua entrada, a atração é imediata. Trata-se de uma lindíssima galeria conectada ao Ferstel Palace, que foi construído por um famoso arquiteto austríaco, chamado Heinrich Von Ferstel, entre 1856 e 1860, para servir de sede de banco e casa de câmbio.




Infelizmente, não pudemos parar pra beber algo nos lindos cafés da galeria, pois já estavam todos fechados. Tivemos de nos contentar com o registro do estilo charmoso do lugar, inspirado na arquitetura veneziana. A Ferstel Passage culminava num pátio interno com domo hexagonal vítreo, que banhava de luz a graciosa Donaunixenbrunnen: algo como fonte da sereia do Danúbio.




Seguimos, então, para a Judenplatz, que abrigou uma das maiores sinagogas da Europa, destruída durante o Pogrom de 1421.

No centro da praça, fica o monumento aos 65.000 judeus austríacos mortos na Segunda Guerra. Primeiramente, achamos o estilo da obra de Rachel Whiteread muito pesado e duro. Observando melhor e lendo os textos explicativos, entendemos que o bloco se tratava, na verdade de prateleiras de livros que representavam as vítimas e sua cultura, que havia sobrevivido à morte e tragédia. Gravados no chão em volta do bloco, havia os nomes dos 41 locais austríacos onde se deram aquelas mortes.




Em frente ao monumento, do outro lado da praça, pode-se ver a estátua de Lessing, autor alemão de origem judaica que, entre outras obras, escreveu a peça “Nathan, o Sábio”.


De tanto que havíamos andado, já estávamos sem noção da nossa localização em relação a outros pontos de referência na cidade e, quando nos demos conta, estávamos novamente ao Centro Histórico. Foi ótimo pra tirar mais algumas fotos, pois aquela luz tão especial de anoitecer na Primavera (na verdade, já passava das 7 horas da noite) parecia coroar nossa última noite em Viena.



Resolvemos desviar novamente do Centro, pra continuar o percurso pelos locais ainda não conhecidos por nós. Foi quando encontramos mais um ponto do tour “Before Sunrise”. Era o Kleines Café, que serviu de locação pra uma passagem bem interessante, onde Jesse & Celine encontravam uma cigana.



 Depois, andamos em direção a uma das locações mais interessantes do filme, que é uma das fachadas do Museu Albertina. Pra isso, subimos sua charmosa escada...



...e tiramos fotos tanto na base do monumento ao imperador Franz Joseph I,...


...quanto da linda sacada do Albertina.


Rodeamos o museu, que decidimos ser nosso destino de visita na manhã seguinte, e encontramos mais um lindo parque urbano. Mesmo com o friozinho decorrente da saída do sol, havia vários grupos em seus gramados e bancos. Nada mais justo, pois, se pra nós, naquele início de noite, Viena estava sendo um deleite arquitetônico para os olhos, imagino pra quem estava naquela perspectiva estratégica do parque.







O fato de ser a última noite que passávamos em Viena, nos fez arranjar fôlego pra andar ainda mais, até o anel da rua Spittelberg. Pudemos conferir como ela era repleta de restaurantes e cafés simpáticos e ficamos com muita pena de tê-la descoberto no fim da viagem. Se soubéssemos que a região era tão charmosa, teríamos sugerido algum local daqueles pra despedida da Bruna, que faríamos mais tarde.




E, pra fechar com chave de ouro nossa versão particular do tour Jesse & Celine, demos uma paradinha estratégica pra descansar no Café Sperl


Enquanto o Eduardo tomava seu expresso e eu um chocolate quente, lembramos de algumas cenas do filme, que tiveram aquele local por cenário: um americano comentava inflamadamente com sua mulher que o serviço era muito fraco. Dizia “na América, seriam despedidos”. Os protagonistas, por sua vez, tinham um diálogo bem interessante, onde cada um fingia fazer o relato do outro, ao telefone, para seus respectivos melhores amigos.


Pedimos as bebidas junto com a conta, pois tínhamos de correr pra não perder a hora marcada com a Bruna. Na direção do Naschmarket, local onde marcamos, passamos pelo lindo Museu Secession, pra quem ficamos devendo uma foto que fizesse mais jus a sua beleza, além de uma visita. Fica pra próxima.



Chegamos a nos perder um pouco na direção do Naschmarket. Sugeri ao Eduardo que fugisse à regra universal masculina de nunca pedir informações e que se orientasse num restaurante perto. Ele concordou, mas, num toque de rebeldia, fez a pergunta em Alemão, pra poder treinar. O único problema é que o Alemão deve ter sido tão bom, que aparentemente convenceu a garçonete de que ele falava o idioma de fato. A moça respondeu também em Alemão, em frases bem longas, às quais o Eduardo reagiu com “cara de conteúdo”. Quando eu questionei o que ela havia informado, recebi a resposta “disse que estamos perto”. Rsrsrsrsrs.

De fato, não estávamos longe e, 10 minutos depois, encontrávamos a Bruna e seu amigo Pedro num dos restaurantes do Naschmarket, que segue o conceito da Cobal carioca, embora bem maior e mais descolada: um mercado com bancas de produtos hortifrutigranjeiros durante o dia, que se transformam em restaurantes cool à noite.

foto da internet

O Pedro era um rapaz espanhol muito simpático, que havia trabalhado com a Bruna. Ele entendia e falava Português perfeitamente e a noite foi de ótimo papo. Infelizmente, acabei esquecendo-me de não tirando nenhuma foto do nosso grupo. Imperdoável!

Voltamos todos juntos, na direção do metrô e nos despedimos da Bruna, deixando combinado um próximo encontro no Brasil, na próxima vez em que ela fosse visitar o país. O único risco é que ela quer vir na Copa, quando eu e Eduardo desejamos estar bem longe do Rio de Janeiro! Quem sabe estaremos em Viena? Vontade é que não falta!

22 de maio: terceiro dia em Viena - Schönbrunn

O dia estava nubladíssimo e, segundo o aplicativo de previsão do clima, com 40% de chance de chuva no seu decorrer. Apostei com o Eduardo que deveríamos levar o enorme guarda-chuva comprado em Florença e ele que não. Como era o próprio Eduardo o responsável por carregar o guarda-chuva, acabamos deixando-o quietinho no Guesthouse Arabella. Ponto pro meu namorado, pois fomos brindados com um sol lindo, que começou a brilhar logo depois que saímos do Consulado Brasileiro, como que saudando a posse de meu novo documento.



O roteiro do dia começava com o famoso Schönnbrun, o palácio de Verão dos Habsburgs, que fica numa parte afastada da cidade. No entanto, antes de pegarmos o metrô, resolvemos andar um pouco na avenida que forma um anel por Viena, muito linda e arborizada e fomos em direção ao Stadpark, mais um dos lindos parques da cidade, onde ficava a estação.

Dessa vez, pudemos curtir o ambiente de uma forma mais confortável do que quando estivemos no Rathauspark. Diferentemente da experiência anterior, quando o tempo era chuvoso, o sol forte aquecia deliciosamente nossos casacos, em contraste com o ar ainda frio daquele fim de manhã.




Rodeamos o lago e assistimos a vários patinhos fofos, com direito à dança do acasalamento de um casal que me lembrou bastante certas histórias no reino dos animais humanos. O pato macho investiu ferozmente sobre a patinha fêmea que ficou assustada e saiu correndo pro lado de fora da água. O macho foi atrás, mas diante da relutância da fêmea, resolveu ignorá-la. Qual não foi a surpresa quando, de repente, a pata começou a seguir o pato, como quem não queria nada, mas pra onde quer que ele fosse. Tive vontade de estapear o diabo da pata, querendo que se desse ao respeito! Mas consegui me conter e preferi assistir quietinha ao Animal Planet em jardim urbano, ao vivo.




Andamos um pouco mais pelo parque e vimos a famosa escultura dourada de Johan Strauss. Tive de aguardar um tempo até conseguir uma brecha pra enquadrar o monumento sem interferência dos turistas japoneses, que posavam pra fotos na frente da estátua, gritando uns para os outros em seus vocábulos quase sempre oxítonos. Se minha imitação japonesa não foi melhorada, ao menos a espera me rendeu uma foto!



Pegamos o organizado metrô na direção do Schönbrunn, que seguia parte pela superfície. Confesso que já não me lembro se houve baldeações, até porque, ao nos entretermos com paisagens e tipos vienenses, acabamos perdendo a parada e tivemos de voltar um pouco. Em todo caso, apesar do engano, era muito fácil e em pouco mais de 20 minutos chegamos à estação correta.

Seguimos o fluxo de turistas pro palácio de verão dos Habsburgs e, ao ficar em dúvida sobre qual das entradas seria a correta, um sujeito que vendia ingressos para um concerto no Schonnbrün nos “orientou”. Obviamente, o preço da “orientação” era nossa atenção pra tentativa de venda do espetáculo daquela noite. Quando o Eduardo argumentou que tínhamos dois eventos reservados em Praga, nossa próxima parada, o sujeito fingiu um quase indignamento, falando em Inglês, “OK, você vai a concertos em Praga, mas estamos falando de Viena, meu amigo. De Viena!”. Agradecemos a orientação e seguimos prometendo pensar no assunto (como 90% dos turistas que ele devia abordar).

Entramos no pátio externo ao palácio, onde já pudemos antever um pouco de sua beleza e comprar as (caríssimas) entradas pro trajeto mais longo, na área interna. Alugamos audioguias, deixamos os casacos pesados no guarda-volumes e lá fomos nós pra mais uma aula de suntuosidade à moda Habsburg.

Três eram os personagens principais da visita audioguiada pelos salões imperiais: a famosa Maria Tereza, com sua enorme prole de 9 filhos, dentre os quais Maria Antonieta, e o casal Franz Joseph e Elizabeth, ou Sissi, a Imperatriz.

Como escolhemos o tour mais longo, pudemos conferir as suntuosas e inúmeras salas barrocas, todas reformadas sob o reinado da impressionante Maria Tereza. Uma vez que não pude tirar fotos, seguem alguns exemplos do "cafofinho" dos Habsburg, que copiei da internet.

foto da internet

foto da internet

foto da internet

A parte reservada à memória de Franz Joseph I e Sissi se destacava pela austeridade dos cômodos do primeiro e pela bizarra manequim com cabelos muito, muito longos, simulando as famosas madeixas da segunda. O audioguia era indispensável, chegando a emocionar com os relatos de Franz Joseph I, na ocasião do atentado a facadas que vitimou sua esposa. "Você não tem ideia de como eu amava essa mulher", teria dito ele. Infelizmente, os sentimentos do pobre (?) imperador, que acordava às 4 da manhã para trabalhar, não deviam ser correspondidos, como se podia supor pelas declarações vanguardistas da racional Sissi. Segundo o narrador, ela dizia que a instituição do casamento era algo "inútil e sem sentido", que obrigava uma pessoa a ficar presa à outra pelo resto da vida.

A respeito de Maria Tereza e sua extensa prole, entre outras curiosidades, o audioguia acrescentou que, apesar de demonstrar claramente seu amor pelo marido, de quem ficou viúva muito cedo, ela era profundamente prática com os arranjos matrimoniais de seus 9 filhos. Casar por amor foi apenas permitindo à filha mais velha, sua preferida. Foi numa dessas que Maria Antonieta perdeu, literalmente, a cabeça!

Depois de fazermos o tour pela área interna do palácio, fomos explorar os exuberantes jardins. A analogia com Versaillhes é imediata, com suas dimensões latifundiárias, inúmeros lagos, estátuas neoclássicas e caminhos delineados por arbustos geometricamente podados. Infelizmente, havia um palco de megashow sendo montado ou desmontado - não conseguimos precisar - que poluía a visão do palácio até o Gloriette.



Andamos até a entrada do famoso Jardim Zoológico de Viena, mas decidimos não entrar, pois o tempo seria escasso pra que pudéssemos aproveitá-lo de fato. Afinal, ainda tínhamos o repeteco do museu de Belas Artes que nos foi concedido pela generosa Berena, na visita do dia anterior. Assim, em vez do Zoo, preferimos almoçar rapidamente no restaurante que havia por ali, oferecendo alguns pratos tipicamente vienenses.

Começamos a brincadeira com nova rodada do chopp Pilsen servido na módica tulipa de 500 ml.



Um simpático esquilinho nos presenteou com uma visita, andando freneticamente por várias cadeiras, de maneira que o máximo que conseguimos registrar foram algumas fotos tremidas.


Resolvemos provar finalmente as famosas salsichas vienenses. Eu pedi a mais simples, com salada de batatas, enquanto o Eduardo foi mais ousado desta vez. Apostou na salsicha recheada com queijo.


Devidamente alimentados, tentamos subir o caminho até o Gloriette, mas de longe, ele parece muito mais perto do que de fato é. Assim, as barrigas cheias nos convenceram a retornar da metade do trajeto. Paramos num monumento mais próximo ao palácio, tiramos algumas fotos e caminhamos um pouco mais por entre os jardins.









Despedimo-nos do Schönbrunn com a certeza de que aproveitamos muito pouco daquele lugar esplêndido, que merece uma visita de um dia inteiro. Em contrapartida, vimos que os vienenses sabem exatamente como curtir ao máximo o palácio, pois foi possível conferir que não eram só os turistas que frequentavam o lugar. Mais do que nos outros parques da cidade, pudemos ver diversas pessoas que faziam jogging nos campos enormes e planos do Palácio de Verão dos Habsburgs, provavelmente aproveitando passes diferenciados para moradores.

Fizemos o caminho contrário do metrô, dessa vez, sem errar nada, mas só conseguimos chegar no Museu de Belas Artes uma hora antes do fechamento. Ao menos, conseguimos aproveitar melhor os Caravaggios, com destaque para a Madonna do Rosário.





Saindo do Museu, resolvemos finalmente fazer nosso tour “Before Sunset”, repetindo diversos locais visitados pelo casal Jesse e Celine. Já eram 18 horas, mas nosso dia estava longe de terminar!