Na noite anterior, o Eduardo já tinha feito pesquisas no mapa pra identificar os caminhos indicados pelo guia que havíamos baixado no celular, o City Walks. Ele trazia o roteiro feito pelo casal Jesse & Céline, de Before Sunrise.
Um amigo disse que essa ideia de "fazer tourzinho de filme" era muito cafona e americano, mas devo refutar que, neste caso, o argumento não se confirma. Os dois personagens eram turistas em Viena e o roteiro não podia ser mais especial e charmoso. Além disso, havia a vantagem de poder ter seus principais pontos ser atravessado a pé.
Começamos pegando o tram próximo ao Museu de Belas Artes e saltando na Schottentor, estação situada no local de um dos antigos portões do muro da cidade de Viena.
foto da internet
Fomos em direção à Mölkerbastei, região onde Beethoven morou e trabalhou durante 8 dos mais de 30 que passou em Viena.
Segundo o guia do City Walks, foi no Pasqualati-Haus que Beethoven compôs as Sinfonias número 4, 5, 7 e 8. Fomos lá pra conferir a fachada, mas o museu já tinha encerrado o expediente de visitas.
Seguimos, então, em direção à Igreja Maria am Gestade, cuja primeira referência data de 1158. Havia uma missa em curso, com muitos jovens participando. Infelizmente, não pudemos tirar fotos internas pra não atrapalhar a cerimônia, nem tampouco da parte externa, que estava em obras e, portanto, coberta.
Ainda que não estivessem no tour Jesse & Celine, aproveitamos também pra conhecer outros pontos imperdíveis no caminho, como a galeria Ferstel Passage e a Judenplatz.
Descobrimos a Ferstel Passage, também chamada de Freyung Passage por acaso, pois, até então, não a tínhamos visto em nenhum guia ou roteiro. No entanto, uma vez que se passe os olhos pela sua entrada, a atração é imediata. Trata-se de uma lindíssima galeria conectada ao Ferstel Palace, que foi construído por um famoso arquiteto austríaco, chamado Heinrich Von Ferstel, entre 1856 e 1860, para servir de sede de banco e casa de câmbio.
Infelizmente, não pudemos parar pra beber algo nos lindos cafés da galeria, pois já estavam todos fechados. Tivemos de nos contentar com o registro do estilo charmoso do lugar, inspirado na arquitetura veneziana. A Ferstel Passage culminava num pátio interno com domo hexagonal vítreo, que banhava de luz a graciosa Donaunixenbrunnen: algo como fonte da sereia do Danúbio.
Seguimos, então, para a Judenplatz, que abrigou uma das maiores sinagogas da Europa, destruída durante o Pogrom de 1421.
No centro da praça, fica o monumento aos 65.000 judeus austríacos mortos na Segunda Guerra. Primeiramente, achamos o estilo da obra de Rachel Whiteread muito pesado e duro. Observando melhor e lendo os textos explicativos, entendemos que o bloco se tratava, na verdade de prateleiras de livros que representavam as vítimas e sua cultura, que havia sobrevivido à morte e tragédia. Gravados no chão em volta do bloco, havia os nomes dos 41 locais austríacos onde se deram aquelas mortes.
Em frente ao monumento, do outro lado da praça, pode-se ver a estátua de Lessing, autor alemão de origem judaica que, entre outras obras, escreveu a peça “Nathan, o Sábio”.
De tanto que havíamos andado, já estávamos sem noção da nossa localização em relação a outros pontos de referência na cidade e, quando nos demos conta, estávamos novamente ao Centro Histórico. Foi ótimo pra tirar mais algumas fotos, pois aquela luz tão especial de anoitecer na Primavera (na verdade, já passava das 7 horas da noite) parecia coroar nossa última noite em Viena.
Resolvemos desviar novamente do Centro, pra continuar o percurso pelos locais ainda não conhecidos por nós. Foi quando encontramos mais um ponto do tour “Before Sunrise”. Era o Kleines Café, que serviu de locação pra uma passagem bem interessante, onde Jesse & Celine encontravam uma cigana.
Depois, andamos em direção a uma das locações mais interessantes do filme, que é uma das fachadas do Museu Albertina. Pra isso, subimos sua charmosa escada...
...e tiramos fotos tanto na base do monumento ao imperador Franz Joseph I,...
...quanto da linda sacada do Albertina.
Rodeamos o museu, que decidimos ser nosso destino de visita na manhã seguinte, e encontramos mais um lindo parque urbano. Mesmo com o friozinho decorrente da saída do sol, havia vários grupos em seus gramados e bancos. Nada mais justo, pois, se pra nós, naquele início de noite, Viena estava sendo um deleite arquitetônico para os olhos, imagino pra quem estava naquela perspectiva estratégica do parque.
O fato de ser a última noite que passávamos em Viena, nos fez arranjar fôlego pra andar ainda mais, até o anel da rua Spittelberg. Pudemos conferir como ela era repleta de restaurantes e cafés simpáticos e ficamos com muita pena de tê-la descoberto no fim da viagem. Se soubéssemos que a região era tão charmosa, teríamos sugerido algum local daqueles pra despedida da Bruna, que faríamos mais tarde.
E, pra fechar com chave de ouro nossa versão particular do tour Jesse & Celine, demos uma paradinha estratégica pra descansar no Café Sperl.
Enquanto o Eduardo tomava seu expresso e eu um chocolate quente, lembramos de algumas cenas do filme, que tiveram aquele local por cenário: um americano comentava inflamadamente com sua mulher que o serviço era muito fraco. Dizia “na América, seriam despedidos”. Os protagonistas, por sua vez, tinham um diálogo bem interessante, onde cada um fingia fazer o relato do outro, ao telefone, para seus respectivos melhores amigos.
Pedimos as bebidas junto com a conta, pois tínhamos de correr pra não perder a hora marcada com a Bruna. Na direção do Naschmarket, local onde marcamos, passamos pelo lindo Museu Secession, pra quem ficamos devendo uma foto que fizesse mais jus a sua beleza, além de uma visita. Fica pra próxima.
Chegamos a nos perder um pouco na direção do Naschmarket. Sugeri ao Eduardo que fugisse à regra universal masculina de nunca pedir informações e que se orientasse num restaurante perto. Ele concordou, mas, num toque de rebeldia, fez a pergunta em Alemão, pra poder treinar. O único problema é que o Alemão deve ter sido tão bom, que aparentemente convenceu a garçonete de que ele falava o idioma de fato. A moça respondeu também em Alemão, em frases bem longas, às quais o Eduardo reagiu com “cara de conteúdo”. Quando eu questionei o que ela havia informado, recebi a resposta “disse que estamos perto”. Rsrsrsrsrs.
De fato, não estávamos longe e, 10 minutos depois, encontrávamos a Bruna e seu amigo Pedro num dos restaurantes do Naschmarket, que segue o conceito da Cobal carioca, embora bem maior e mais descolada: um mercado com bancas de produtos hortifrutigranjeiros durante o dia, que se transformam em restaurantes cool à noite.

foto da internet
O Pedro era um rapaz espanhol muito simpático, que havia trabalhado com a Bruna. Ele entendia e falava Português perfeitamente e a noite foi de ótimo papo. Infelizmente, acabei esquecendo-me de não tirando nenhuma foto do nosso grupo. Imperdoável!
Voltamos todos juntos, na direção do metrô e nos despedimos da Bruna, deixando combinado um próximo encontro no Brasil, na próxima vez em que ela fosse visitar o país. O único risco é que ela quer vir na Copa, quando eu e Eduardo desejamos estar bem longe do Rio de Janeiro! Quem sabe estaremos em Viena? Vontade é que não falta!



