
Cheguei no sétimo dia de viagem com a dúvida cruel sobre qual dos museus ficaria de fora das minhas visitas. Muitas coisas lindas ainda a ver e muitíssimo pouco tempo. Ainda tinha o dia seguinte, pois meu voo era só à noite, mas já tinha combinado com a Marly que iríamos a Chartre, que ela insistia como ser uma cidade absolutamente imperdível. Mas isso fica pra outro post.
Diante da questão difícil mas deliciosa, perguntei pra minha consultora altamente especializada em assuntos artísticos, Nandi. À pergunta sobre qual museu eu deixaria de fora entre d`Orsay e l`Orangerie, ela foi taxativa! "Vá ao l`Orangerie, absolutamente!!!!". Além desses dois, ainda queria ir novamente ao Louvre e ao Rodin. Ah, as escolhas da vida!
Saí cedinho com a Marly, deixamos o Lucas na creche e parti pra Paris diretamente pro l´Orangerie. Diretamente, pffffffffffff... Isso é algo absolutamente impossível nessa terra!! Saltei com a Marly na estação Odeon e fui andando na direção do Jardim de Tuileries, onde fica o Museu l`Orangerie. No meio do caminho, passei por uma patisserie e me dei conta de que ainda não havia comido nenhum folheado! Mentira, tinha comido um de queijo que a Marly havia me dado! Mas não tinha comido nenhum doce!!! Parei naquele cantinho pequeno e charmoso, onde o primeiro balcão oferecia doces maravilhosos e sanduíches incrementados. Parei no balcão do fundo, que tinha os pães mais diversos, pastéis e folheados. Entrei numa mini filinha, fiquei saboreando meu penúltimo dia daquele idioma tão encantador e escolhendo minha vítima. Parei numa plaquinha que dizia algo como "choisson" (não era isso, mas lembrava) e "pomme" que eu já sabia significar maçã. Ele tinha uma forma linda de folha, quase uma escultura. Chegada a minha vez, pedi no meu rascunho de Francês horroroso "Bonjúr missiê, ân xoassôn ô pôme, sivuplé!". O homem franziu a testa por um instante, fez uma exclamação de quem tinha decifrado um enigma, pronunciou corretamente o nome que eu acabara de assassinar e colocou a delícia dourada e crocante num saquinho. Paguei menos de dois euros e saí radiante!
Provei no mesmo quarteirão e posso assegurar que foi um dos meus poucos arrependimentos nessa viagem. Arrependimento de não ter fotografado pra nunca mais esquecer aquela delícia!!! Coisa de looooooooooooooooouco!!!! Crocante, mas com cada folhinha derretendo na boca e misturando com aquele creme maravilhoso de maçã, com a medida perfeita de açúcar, até pra quem não é fã de doce muito doce como eu. Lindo e divino! Ai, como sou feliz e muito, muito gorda na Europa!
Cruzei o Sena pela Pont Neuf, onde ainda repeti mais fotos. Era o medo de esquecer aquela beleza toda! Em vez de caminhar pelo Jardim Tuileries (tinha feito isso duas vezes), decidi ir pela rue de Rivoli pra comprar algumas lembrancinhas que tinham ficado faltando. Obviamente, isso me levou ainda mais tempo, mas quem pode resistir a um apelozinho consumista com sotaque francês#
Cheguei no Museu l`Orangerie às 11 da manhã, encontrando um solzinho tímido e uma fila enorme. Resignei-me pensando que a vista durante a espera não seria assim tão ruim de curtir e fiquei esperando. Depois de uns 40 minutos, lá estava eu em frente às Ninpheas de Monet! É um dos mais perfeitos exemplos de como uma obra de arte é indescritível pra quem já a admirava pelas fotos nos livros. Ainda mais no caso de um mestre impressionista, que permite a brincadeira deliciosa de chegar perto e logo depois afastar, comparando as pinceladas marcadas no detalhe e os efeitos de luz que elas provocam à distância.
E são painéis enoooooooormes, com cores lindas! Eu tinha alugado o audioguia e ficava ouvindo as narrações com sotaque lusitano sobre os "verdes profundos" da palheta de cores. Tirei muitas, mas muitas fotos, na vã ilusão de eternizar aquele momento com imagens daquele espetáculo capturadas por mim. Que emoção poder ver uma obra linda daquelas feita pelo meu querido Monet! Pois aquele museu ainda reservava muitas outras: uma exposição do Paul Klee, muitas obras de Renoir, Cezánne, Matisse (que cores lindas) e Picasso!
Fiquei bem umas duas horas abondantes por lá (tinha tempo que eu não usava esse termo!) e saí com pena. Fiquei numa super dúvida sobre se seguiria pro Rodin ou pro d´Orsay, mas o l´Orangerie aguçou minha predileção (minha e da torcida do Flamengo) pelos impressionistas, daí segui pro l`Orangerie.
Mas antes, coisa chata, tinha de almoçar. Minha irmã tinha me ensinado anos atrás de que não se curte nada se algumas necessidades básicas não estiverem satisfeitas, como sono, fome e, bem, banheiro. Pois fui satisfazer a segunda.
Pus-me à tarefa de escolher onde comer e acabei decidindo por um restaurante na Boulevard Saint-Germain, chamado Mucha Cafe. Sentei do lado de fora e decidir dar repeteco na Sopa de Cebola. Foi quando descobri que a primeira que eu tomei estava uma droga; pros padrões de Paris, claro! Essa, sim, estava di-vi-na! Super cremosa e com um pão gratinado daqueles que tem que dar uma forçadinha na colher pra se quebrar a crosta gratinada. Pedi uma taça de vinho tinto pra acompanhar e fiquei xingando silenciosamente o francês chato que fumava do meu lado, com a fumaça indo direto pro meu nariz, estragando um pouco o momento.
Alimentado o corpo, segui pro d`Orsay em busca de mais um pouquinho pra alma. Só que, no meio do caminho tinha uma doceria. Tinha uma doceria no meio do caminho. Dessa vez, escolhi meu doce preferido: tartellete de frutas. Fiquei na dúvida entre amora e morango e optei pelo primeiro, mais difíceis de encontrar no Brasil. Affff! Que delícia!
Essa despedida estava recheada de emoções e as do Museu d`Orsay ficam pro próximo post.