terça-feira, 7 de junho de 2011

Florença: segundo dia - 6/5

Dormi 8 horas quase cravadas, mas acordei completamente descansada, como há muito não me sentia. A impressão que tive foi de nem ter me mexido, pois acordei exatamente na mesma posição em que fui dormir. Foi ON > OFF > ON total!

Tomei café com a Nandi e o Andrea, pois o Nelson já havia ido trabalhar há muito. Eles me contaram terem visto na TV que, no dia anterior, havia sido o maior volume de água em Florença num período de 32 anos. Chegou a haver vítimas em algumas áreas mais remotas da cidade. Infelizmente, a gente tá acostumado a ouvir isso no Brasil, mas aqui foi motivo de espanto. Ou seja, é oficial, sou pé frio!

Mas, brincadeiras à parte, hoje o dia foi cheio! Já no ônibus pro Centro, encontrei uma brasileira muito simpática que me reconheceu graças à mochilinha da Oi (marketing viral até na zorópa) e puxou papo. Seu nome era Aline e veio pra Itália pra estudar canto lírico. Acabou se casando por aqui, separou-se e agora trabalha numa loja de roupas, de segunda a segunda, pra tirar um extra nos sábados e domingos. Realmente, aquele mito glamouroso a respeito de quem vinha morar no Velho Mundo acabou completamente. A verdade é brazucas ralam muito por aqui!

Saltei antes dela, na estação de Santa Maria Novella e fui pra Igreja. Já tinha conhecido no ano passado, mas foi bem bacana revê-la, com suas linhas claramente influenciadas pelo estilo oriental. Fica óbvio até pra mim, que não conheço nada de arquitetura. A fachada é linda, com detalhes em branco e verde. A lateral do antigo cemitério, que fica colado na Igreja também segue essa linha e dei uma viajada, tirando fotos em ângulos diferentes, tentando evidenciar essas linhas geométricas.

Entrando, fui logo ver a famosa cruz de Giotto na nave central. Foi toda restaurada e está linda. Os vitrais dessas Igrejas, sempre iluminando dramaticamente o altar, são invariavelmente um show à parte. Várias capelas com diversos afrescos e uma Natividade do Boticcelli pra completar a brincadeira. Revi também a Santíssima Trindade do Masaccio, que li ter sido um dos primeiros trabalhos a retratar Deus Pai. O Deus desses caras ainda dava um belo de um medo! Parece um senhor de idade, mas bem vigoroso e muito, mas muito severo.

Desta vez, acabei indo pro museu que não havia conhecido no ano passado. Fica no Chiostro Verde, também ao lado da Igreja, mas com uma entrada separada (e paga à parte também, obviamente). Devia ser muito inspirador pros caras daquela época rezarem. E também devia dar o maior soninho. Era uma calma, uma paz... Mas aí, se vc se concentra nos afrescos à volta, vê que a calma e a paz ficam por conta do jardim com seus ciprestes balançando suavemente ao vento. Olhando com cuidado, percebe-se figuras terríveis nas paredes. Peguei um detalhe de um afresco com o cara enfiando a faca na cabeça do outro. Está tudo sumidinho, mas o sangue espirrando aparece. Sinistro, mas são sempre passagens bíblicas e a maior parte das histórias da Bíblia não é pra estômagos fracos.

Sinistro também são os túmulos e túmulos de pessoas por ali. Impressionante como o culto à morte é algo forte na religião católica. Mas é impressionante a quantidade deles. Vi alguns que tinham uns epitáfios bem tristes, de famílias que morreram inteiras. O Nelson me explicou que provavelmente foram famílias que morreram nas pestes.

Tirei várias fotos da capela espanhola, que fica no chiostro. Eu sempre gasto um tempo pra olhar os tetos. São sempre lindos. Quase nunca vejo os turista tirando foto dos tetos. Não entendo, porque além da beleza, acho fascinante imaginar como aqueles artistas se viraram pra conseguir pintar tão bem naquela posição difícil.

Depois de Santa Maria Novella, segui na direção do Palácio Médici di Ricardi. Peguei o caminho do mercado de San Lorenzo. Consegui segurar meu clamor consumista, porque quero deixar pra fazer comprinhas com minha amiga Cristina, que chega hoje, mas a quem verei só na terça de manhã, dia 6. Em vez disso, gastei um tempão catando as tais flores de abobrinha fritas que estou louca pra provar. São as fiori di zucchini, mas não achei. Tive de curar minha frustração com um belo panino de prosciutto crudo. Acompanhei com vinho branco, apesar de saber que não combina. Primeiro porque a atendente enganou-se e me serviu o branco. Segundo porque pensei que seria bom não ficar com dente roxo às 12:30.
De estomaguinho cheio, fui pro Palácio di Medici Ricardi. Achei que fosse ser algo mais didático, formal, mas que nada! Foi uma visita surpreendente. Pra começar, era um palácio lindo de morrer. A parte interna e o jardim davam a noção do que a família Medici experimentou em seu tempo de glória. Depois, fui pra uma instalação moderníssima sobre os afrescos dos Reis Magos. Parecia uma daquelas instalações de arte eletrônica que a minha orientadora apresentava nas aulas do Mestrado. Você sobe numa placa sob a qual fica um fone todo especial e na sua frente, um telão de mais ou menos 4m x 3m. A obra passa em várias páginas que você vai girando e destacando detalhes importantes apenas esticando o braço apontando à distância o que deseja ver. Como o afresco tem uma multidão de personalidades, como a vários membros da família Medici e o próprio autor, ele mostra os detalhes de cada um deles. Depois da aula super bacana (que foi uma aula de design de exposição também), segui pro segundo andar com o objetivo de conhecer a obra in loco. Os afrescos cobrem várias paredes, englobando toda a capela. Uma pena não poder fotografar!

Dali eu segui pros aposentos da família Medici que também era cheio de afrescos, tapeçarias, espelhos e castiçais impressonantes. Uma coisa me chamou atenção, que também reparei em Versaillhes, no ano passado. Acho que a cama king size é coisa de americano, pra quem o conforto é uma obra de arte. A cama dos ricos mecenas Medici era pequenininha! E olha que o que não falta ali é espaço.

Saindo de lá, segui pra Igreja de Santo Espirito, que fica do outro lado do Arno. Aproveitei pra tirar algumas fotos da Ponte Vecchio e tomar um gelato básico de Amarenna. Chegando lá, descobri que a Igreja estaria fechada até as 4 da tarde, o que me obrigou a fazer um almocinho. Coisa chata... Sim, porque o panino havia sido às 12:30 e já eram 15:50. Depois de andar catando um lugar bacana (a praça de Santo Espirito é meio decadente, cheio de mendigos e gente esquisita), acabei parando no Borgo Antico, onde comi uma deliciosa pizza Napoli (mussarale fresca, tomates, anchovas e alcaparras). Tomei um susto com o tamanho, mas quem me conhece, sabe. Missão dada, missão cumprida!

Depois do almocinho "básico", voltei pro lado de cá do Arno e fui andar pelos arredores das lojas chiques. Acabei me deparando com uma perfumaria maravilhosa, com perfumes divinos, de grifes que pareciam artesanais, pois nunca ouvi falar ou vi em outros lugares. Experimentei vários e guardei o cartão com o nome de um eau de toillette cuja viabilidade pretendo avaliar até o fim da viagem.

No caminho pro ônibus, dei de cara com o Palazzo Strozzi, onde soube que estava passando uma mostra que juntava Picasso, Miró e Dalí. Achei o máximo ver esses ícones da pintura moderna em plena Florença e lá fui eu. Muito bacana a organização da exposição, que mostrou obras e fases bem análogas desses artistas, com foco na inspiração de Miró e Dalí no mestre Picasso.

A sorte é que eu só tinha de saltar no ponto final, porque fiquei pescando com a cabeça durante a viagem toda, absolutamente exausta. Acabei indo dormir tarde, mas amanhã não tem descanso, pois vou encontrar a Cristina e temos muuita coisa pra ver.

Bacione.

P.S. Logo pela manhã, ao ir pro Centro, vi alguns estabelecimentos comerciais que me fizeram descobrir que um amigo do meu trabalho (área de Relacionamento Digital da Oi) trabalha por esporte. Sua família é a feliz proprietária de diversos negócios em Florença, como um café Baglioni e o hotel Baglioni, em região estratégica da cidade: ao lado da Estação de Santa Maria Novella. Um fidalgo toscano! Bagli, agora que você foi revelado, se for pagar um almoço pra galera, deixe eu voltar, tá? Rs.

4 comentários:

  1. Você escolheu a profissão errada... você devia ter sido repórter de caderno de viagens!! divirta-se!

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  2. Estou curtindo miitttooo com vc esta viagem...adorando ler seu blog!!! Bj muuuiiito grande

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  3. Podia ter me lembrado que eu falava para meu tio Franchesco deixar vc ficar com o meu quarto no Relais Santa Croce na Florença!

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