segunda-feira, 13 de junho de 2011

Florença: sétimo dia - 12/6

Como era domingo, decidimos eu, Nandi e Nelson, fazer um programa mais tranquilo. Por isso, combinamos de acordar pouco antes das 9 e darmos uma corrida em volta do Arno e depois farzermos um passeio à Piazzale Michelangelo. Se desse tempo, iríamos a Fiesole.

O tempo amanheceu muito nublado, então optamos por ir a Fiesole logo de manhã, pois este teria muitas igrejas e lugares pra conhecer pra à tarde irmos à Piazzale Michelangelo, passando pela igreja San Miniano al Monte.
Vesti uma camisa do Brasil que havia recebido da Oi na época da Copa. Era muito engraçada a reação das pessoas, pois ninguém era capaz de passar por aquela blusa em amarelo canarinho com gola verde sem se deter o olhar um pouquinho. Na maior parte das vezes, esse olhar era seguido de um sorriso (ou do máximo que alguns europeus podem chegar dele).

Saímos por volta de meio-dia e e pegamos dois ônibus pra Fiesole. Não é muito simples chegar lá, pois o transporte coletivo em Florença não é muito legal e acabamos esperando um tempo enorme pelas duas linhas. Mas valeu a pena! Já no caminho, se tem uma prévia da beleza que é aquele bairro. Fica bem no alto e a serra nos premia com uma vista geral de Florença, com sua arquitetura espetacular, rodeada de muito verde. Obviamente, lá estavam meus queridos ciprestes.

Saltamos numa pracinha simpática e o tempo já começou a abrir. Vimos a catedral por fora, mas estava acontecendo uma missa, por isso, não pudemos visitar. Optamos por subir a ladeira até o Convento de São Francisco, onde a Nandi falou que haveria uma igrejinha linda, com um lindo parque a sua volta.

De fato, a igreja era uma graça. Pequenina e singela, mas repleta de afrescos por dentro. Uma porta lateral dava pra um chiostro delicioso, dentro do qual comentamos que o mundo lá fora parecia não entrar.

Subindo uma escadinha, uma visita muito interessante. Acessava-se um corredor com cerca de 10 celas destinadas aos monges franciscanos. Lembrei muito do meu pai, que tem grande curiosidade sobre a vida desses religiosos; curiosidade esta que herdei. Assim como o conto da Cachinhos de Ouro que encontra a casa de uma família urso, tinha-se a impressão de que os monges haviam dado uma saidinha rápida e iriam voltar já. Algumas celas estavam fechadas, mas em outras, podíamos entrar e observar de perto aqueles cubículos que não excediam 4m2, sempre austeramente mobiliados. No máximo, um catre, uma cadeira e uma mesa com algum objeto religioso, que também podia ornamentar uma parede, como um crucifixo, uma estátua de São Francisco ou mesmo um afresco sacro. Foi feita uma espécie de ambientação temática, pois algumas mesas tinham um pergaminho parcialmente escrito e uma pena sobre um tinteiro, ou mesmo um livro antigo aberto com anotações ao lado. Um toque sutil, mas que fez toda a diferença. Palmas pra quem organizou o museu!

Apesar de minúsculas, as celas eram extremamente iluminadas por janelas que davam vista para os cenários bucólicos de Fiesole. Espero que as fotos deem um pouco dessa noção, pois gostaria muito de fixar na memória essas imagens.

Saímos da Igreja para a parte exterior do convento e, num gramado verdinho, muitas pessoas tomavam sol, liam, faziam anotações e desenhos inspirados por aquele clima delicioso. Nelson estava já sentado num cantinho, esperando por nós, e, como bom brasileiro, estava tomando uma cervejinha (dinamarquesa) que havia levado. Tiramos algumas fotos e eu e Nandi nos juntamos a ele, tomando também cerveja e curtindo o lugar, bem ao estilo dos europeus.

Descemos por um parque super arborizado e que dava vista pra outras partes de Fiesole, como um teatro romano. Chegamos novamente na praça, mas a Catedral principal já estava fechada. Fomos, então, em direção de uma igreja cuja fachada era ornamentada por colunas romanas. Nandi me explicou que, para a construção de muitas igrejas italianas, não só foram aproveitadas estruturas da antiguidade, mas também muitos templos romanos foram "depenados" com esse propósito. Eles forneceram material pra essas novas construções, que podiam ser colunas e elementos inteiros, como vimos depois em San Miniano al Monte, ou simplesmente os blocos de mármore. Ela me contou que o Coliseu foi um dos que sofreu bastante essa "reciclagem".
Pois bem, depois de ver de pertinho minha primeira oliveira (não tinha nenhuma azeitona ainda, só florezinhas), entramos na igreja com a fachada de templo. Ela era muito linda, tipicamente românica e repleta de afrescos de altíssima qualidade do quatrocentto, conforme explicações da Nandi. Quando cheguei pertinho do altar e olhei pra cima, não acreditei! Lá estava o monograma que eu tive bordado sobre o peito esquerdo durante dez anos da minha vida, o monograma Marista! Não consegui ainda descobrir o nome da Igreja, nem mesmo sua história, mas farei isso assim que chegar no Brasil e tiver mais um tempinho. Pena que as fotos ficaram um pouco tremidas, pois não quis usar flash e contribuir pra danificação daquela beleza.

Saímos e, bem ao lado, havia uma exposição. Perguntamos e descobrimos que se tratava de um artista contemporâneo e que o ingresso era uma nota. Desistimos e o Nelson reparou que havia uma estrutura de vidro logo abaixo daquela construção. Chegamos perto e percebemos que se tratava de um visor que revelava um caminho romano abaixo daquele prédio. A Itália realmente é muito interessante! Tem história repousando pra todos os lados, aonde menos se espera.

Resolvemos tomar um gelato antes de voltarmos a Coverciano. Nelson escolheu um só de chocolate, Nandi de chocolate e morango e eu de avelã e morango. Absolutamente divinos, todos elas! Eles chegaram a a comentar que haviam ouvido falar do sorvete de Fiesole, mas não imaginaram que fosse tão bom!

Com cerveja e gelato tendo dado uma enganadinha na fome, decidimos não voltar pra casa e seguir diretamente pra Piazzale Michelangelo. Pegamos mais dois ônibus e, em cerca de meia hora, estávamos em outro extremo da cidade, vendo outra panôramica lindíssima de Florença, com direito a Duomo, Santa Croce, Santa Maria Novella, Ponte Vecchio, Palazzo Vecchio e o próprio bairro de Fiesole! No centro da praça, havia uma cópia do David que eu ainda não tinha visto (a outra fica na Piazza della Signoria). Abaixo dele, cópias de Dia e Noite e também Aurora e Crepúsculo, cujos originais eu havia revisto no dia anterior, na Capela dos Médici. Todas essas cópias eram em bronze.

A esta hora, o tempo já ameaçava uma chuva feia, então seguimos logo pra San Miniato al Monte, que a Nandi disse considerar a igreja mais linda de Florença. Realmente, muito interessante, tanto por dentro quanto por fora. A fachada me lembrava bastante Santa Maria Novella e, a sua volta, havia um cemitério. Como curiosidade, vale dizer que estava o jazigo bem visível da família Zeffirelli.

Logo acima do portal, um mosaico lindo, dourado, no estilo dos que forram todo o teto do Battistero. Por dentro, trabalhos lindíssimos de mármore espalhados pelo chão, púlpitos, colunas (cada uma diferente da outra e, conforme a Nandi, "recicladas" de outras construções romanas) e altares. A cripta de San Miniano ficava atrás do altar, um pouco mais abaixo, rodeada por uma série de poltronas de madeira. Admiramos os arcos e o teto afrescado. Reparei que havia um trabalho parecido com o que vi em Assis, de um azul profundo, com estrelas douradas em relevo. Nandi me explicou que essa técnica era bastante comum, na verdade. O azul que eu achava tão lindo era proveniente do lápis lázuli, bastante utilizado nessa época, mas que é muito difícil de manter em afrescos, pois o pigmento se solta. Ela me contou que vemos tantos afrescos em tom de terra porque sua base tinha essa cor. Uma vez que o lápis lázuli vai se perdendo, o tom vai arroxeando, até revelar o fundo e se tornar terracota. No teto da cripta, deu pra ver todas essas fases, a base avermelhada, roxos desgastados e azul profundo. Nandi completou que ainda é possível ver tanto do acabamento azulado em Assis porque o Giotto, autor da maior parte dos afrescos, era um mestre nessa técnica. Viva Giotto! Entrou pro rol dos meus italianos preferidos!

Pra completar a fantástica aula sobre afrescos, vimos o rascunho de um deles na parede. Nandi me explicou que sempre era feito esse rough por trás da obra final e que o afresco verdadeiro deve ter sido destacado e levado pra algum outro lugar.

Minha sorte estava grande neste dia, pois assim que saímos, ouvimos um canto lindíssimo vindo da igreja. Corremos pra dentro e constatamos que havia começado um canto gregoriano. Postei-me respeitavelmente afastada pra poder tentar gravar um pouquinho. Muito lindo!

Quando saímos, o céu estava preto. Corremos pro ponto e, felizmente, o ônibus chegou logo. Esperamos um pouco mais pro segundo. Foi uma viagem engraçadíssima, pois a Nandi sentou bem em frente de uma velhinha que estava com o cabelo, que devia ser branco, totalmente azulado. Tentamos segurar o riso, mas não aguentei e brinquei com a Nandi, dizendo que era só ela olhar em frente pra ver aonde tinha ido parar todo o lápis lázuli que caía dos afrescos. Espero que a velhinha não saiba Português, porque acabamos rindo muito!

Chegamos a pegar um pouquinho de chuva, mas saltamos bem próximo ao apartamento dos dois. Abrimos o vinho da Umbria e comemos com pão e o queijo gorgonzola mais divino que já provei! Depois, arroz e empadão que o Nelson havia preparado. De sobremesa, panforte de figo com amêndoas. Hum!!!
Que dia delicioso! Amanhã é a vez de Lucca!

Bacione.

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