segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lucca: oitavo dia - 13/6

Não acordamos muito cedo, tomamos café tranquilamente e seguimos pra estação de Santa Maria Novella pra pegar o ônibus até Lucca. O tempo amanheceu nublado e frio, mas foi melhorando rapidamente. Felizmente, não pegamos uma gotinha de chuva em momento algum.

Saímos às 11:15 e a viagem foi bem tranquila, com exceção de uma senegaleza que falava altíssimo ao celular sobre seus problemas com documentação, homens e dinheiro. Dava vontade de fazer que nem a gravação que eu e as meninas ouvimos várias vezes no Duomo de Firenze "Shhhhhhhhhh! Silenzio, per favore!", mas ela parecia muito barraquenta e guardei minha viola no saco. No fim, um segundo telefonema deu pra sacar que ela era prostituta. Quando levantou pra saltar e reparamos melhor, suas roupitchas e peruca de cabelos enoooormes revelavam um estilo bem suspeito mesmo. Ela saltou numa cidade que Nandi e Nelson me contaram ser famosa por suas termas e um certo turismo sexual. Confesso que gosto de encontrar essas figuras pela viagem. Incomodam, são mal educadas, mas também interessantes e fazem parte do cenário local, afinal de contas.

Chegamos em Lucca por volta de 12:50, pois o ônibus fez paradas em 3 cidades. Compramos um mapa da cidade e partimos pras lindas igrejas e praças e vielas. Nandi e Nelson acharam a cidade mal conservada, com as fachadas bem sujas e muitas pinturas descascando, mas, apesar disso, bastante charmosa.

Adoramos a fachada do Duomo, com seus alto relevos ilustrando os meses. Acima da porta central, Jesus num alto relevo e logo abaixo dele, os doze apóstolos.

A Igreja de San Michele era extremamente alta e imponente, com duas obras dos top em seu interior: uma escultura de Andrea della Robia, irmão do Lucca della Robia, autor da Cantoria que fica no Opera del Duomo e uma pintura do Filippino Lippi, filho do Filippo Lippi. Também havia um grande crucifixo cuja face, diz a lenda, seria cópia daquele feito por Nicodemus, inspirado no rosto real de Jesus Cristo. Outro ponto forte eram alguns vitrais lindos, com muitos vermelhos. A Nandi me explicou que, naquela época era usado o ouro pra se conseguir essa cor para o vidro, por isso, o tom vermelho era tão difícil de se encontrar.

Já eram praticamente 15h quando decidimos almoçar. Tentamos ver ali por perto algum lugar interessante, mas eles julgaram todos como iscas pra turistas. Resolvemos tentar as indicações que eu tinha no meu guia, perguntando a uma senhora que atendia numa tabaqueria. Muito simpática, ela indicou que, sorte das sortes, virando à esquina, estava um deles. Era a Trattoria da Leo, que tinha um ambiente externo e outro interno. Achamos o salão interno mais interessante e pedimos o cardápio. O garçon pegou um papel e começou a riscar uma série de pratos que não estavam mais disponíveis. Quando ele nos entregou, havia só 3 primo piatti e 3 secondo piatti. Fiquei meio pau da vida na hora, porque era o almoço que meus pais pediram que eu oferecesse aos dois, em agradecimento à hospitalidade mais do que generosa. Mas eles me tranquilizaram dizendo que as típicas trattorias eram assim, pois a comida era fresca e não sobrava pro dia seguinte. Ambos estavam empolgados, dizendo que certamente provaríamos um típico estilo italiano de manggiare, pois ali não havia refinamentos, mas, certamente, tinha boa comida.

Pedimos o vinho da casa e água. Serviram-nos uma cesta de pães, azeite e vinagre. Em menos de cinco minutos, chegava nosso primo piatto, que era uma massa em forma de orelhinha, com molho de tomate. Queijo abondante e mamma mia, uma delícia! O secondo piatto que escolhi era um frango em pedaços com um molho bem diferente e interessante, baseado em tomate e azeitonas. Nandi e Nelson escolheram um outro, que era uma espécie de frango assado com um molho de vinho. De contorno, pedimos berinjelas e alcachofra. Amamos tudo e eles garantiram que farão questão de repetir a Trattoria da Leo, quando voltarem a Lucca.

Deixamos a sobremesa pra outro lugar, mas eles estavam bastante satisfeitos, preferindo café com Amaro. Eu não dispensei um piccolo gelato di amarenna, que tomei numa casquinha crocante e tão deliciosa quanto o sorvete.

Flanamos por Lucca mais um pouco, na direção do anfiteatro romano e paramos numa lojinha lindíssima, que vendia as cerâmicas mais lindas que eu já vi até agora. Tinha uma ópera tocando (Lucca é a terra de Puccini) e, quando começava uma ária mais interessante, o dono, que era uma figuraça, fazia "shhhhhhhhhhh!" sorrindo e aumentando o som. Feliz pela nossa aceitação para a música, ele se empolgou e colocou outra, dizendo ser de uma cantora lírica chamada Anna Moffo, numa gravação de 1953 de La Bohéme (obra do Puccini, obviamente). Realmente, a voz era lindíssima e ele a descreveu com uma daquelas expressões italianas divinas, que entrou no meu rol das preferidas dessa língua, como "horas abondantes". Ele fazia um gesto com a mão, de um lado pro outro, fechando os olhos e falando "è come il vento"! Eu amo os encontros com essas figuras! São os pontos altos da viagem!

Sabendo que éramos brasileiros, ele sorriu e correu pra colocar outra música. Era "Só danço samba" do João Gilberto. Aproveitei a empolgação do homem, que desenrolava no italiano com a Nandi e o Nelson e perguntei se poderia fotografar a loja. Ele consentiu e eu mandei ver, com flash, sem flash, até cansar! Rs.

Depois, paramos numa lojinha tipo delicatessen, que pra mim é sempre uma perdição. Comprei um tempero pra massa, potinhos de cerâmica e sabonetes artesanais. Depois disso, foi o tempo de irmos pro anfiteatro romano e voltarmos pra estação.

Como chegamos um pouquinho antes do horário, eu e Nandi subimos no muro e tiramos algumas fotos. A luz estava linda e tinha muita gente correndo, pois o topo das muralhas é largo e tem uma espécie de rua cercada de verde. Eu e Nandi tivemos inveja deles. Deve ser muito gostoso correr naquele cenário toscano. Tivemos pena de não termos feito o passeio de andar naquele caminho cincundando toda a muralha, mas tínhamos de fazer algumas escolhas, afinal de contas.

No ônibus, desta vez, não havia nenhuma senegaleza gritando ao telefonino, então chapei quase que do início ao fim da viagem. Saltamos em Santa Maria Novella e pegamos o ônibus pra Coverciano. Saltamos um pouco antes pra comprar coisas pro jantar: salsicha com chucrute e picles. Aproveitei pra aumentar meu estoque de chocolates e bobagenzinhas pra levar ao Brasil e seguimos pra casa.

Agora, é terminar de postar, arrumar a mochila, tomar banho e ir dormir, porque amanhã tem Siena!

Bacione!

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