sábado, 11 de junho de 2011

Florença: quarto dia - 8/6

Acordei bem cedinho porque precisava estar às 8:30 na porta do Uffizzi, que foi o único horário de manhã disponível pra reserva. Apesar de ter dormido pouco, estava bem disposta, mas não deu tempo de comprar nada pra comer no caminho, por causa da pressa. Dei sorte de não ter chovido e também de o ônibus estar paradinho na fermata, quase que me esperando.

Depois de uns 20 minutos no ônibus, saltei na Piazza San Marco e fui andando até o Uffizzi. É um chãozinho, mas cheguei rápido. As meninas chegaram 5 minutos depois. Entramos direto, sem fila alguma e começamos. Vimos duas ou três salas e resolvemos lanchar na cafeteria do museu. Pedimos alguns sanduíches. Eu tomei capuccino e as meninas chocolate quente. Ficamos no terraço porque na tavola se pagava 5 euros a mais por pessoa. Aliás, isso é um costume italiano que, pra quem não conhece, vale ficar atento numa viagem. Esses cafés cobram para que se sente à mesa. Por isso, o preço é separado para balcão e mesa.

Eu havia almoçado nesse Café no ano passado, com a Sandra e a Cissa, mas não lembrava de que terraço tinha uma vista pra lateral do Pallazzo Vecchio, pro Duomo e pros telhadinhos lindos de Firenze. O problema é que também tem um muro alto e tem uma cordinha impedindo uma maior aproximação. Aproveitamos o que pudemos do visual pra tirar algumas fotos.

Voltamos pro museu e recomeçamos a visita. Desta vez, além de babar da mesma forma que no ano passado pros Boticcelli, Rembrandt, Michelangelo e da Vinci, consegui reparar melhor em alguns outros pintores, como o Bronzino. Tinha duas obras dele muito interessantes, expostas uma de costas pra outra, encostadas, como se fossem duas faces de uma mesma. Eram dois momentos de 3 elementos: um anão nu, uma coruja e um gavião. Na "primeira", a coruja estava pousada no braço do anão, que estava virado bem de frente, e um gavião voava ameaçadoramente perto. Na "segunda", o anão já estava de costas, olhando por cima do ombro, ainda com a coruja sobre seu braço esquerdo e segurando a carcaça do gavião morto com a mão direita. Não lembro o nome da obra, mas vou pesquisar quando voltar.
Ano passado, quase todos os Caravaggios estavam cobertos pra uma exposição em andamento. Desta vez, estavam todos expostos, pra minha grande felicidade! Vi o Bacco, cujo poster eu tenho no meu quarto e revi o escudo de Perseu com a cabeça da Medusa. Lindo!

Outra obra que adorei rever e que estava bem ao lado dos Caravaggios foi a Judith cortando a cabeça do (?? esqueci!!). É super impressionante, com direito a sangue espirrando e tudo. Mais bacana ainda é saber que foi uma mulher, Artemisia, a autora. A Nandi me contou a história sobre que fala o quadro. A Judith amava aquele homem, mas teve de matá-lo pra libertar seu povo. Lembrou-me de que na Galeria Pitti tem a mesma Judith, também da Artemisia, fugindo com a cabeça, com uma expressão de desespero, como se estivesse na dúvida sobre se havia agido corretamente. Fiquei refletindo sobre isso. Na pintura do Uffizzi, ela não tinha expressão de dúvida nenhuma. Suas feições eram de quem está mega determinada e disposta a ser bem sucedida no que está fazendo. Fiquei viajando se ali não seria a própria Artemisia se manifestando contra aquele bando de machistas e egocêntricos que a rodeavam. Pra completar minha interpretação, o decapitado não está com a expressão de quem está conseguindo resistir. Pelo contrário, ele parece totalmente dominado. Se minha interpretação procede, considero bastante justificável porque, se hoje em dia, a gente já pena com a vaidade masculina, posso imaginar o que uma artista mulher deve ter sofrido no meio de todos aqueles homens, que antes de qualquer coisa, eram gênios. Mandou bem, Artemisia! Rs. Vou dedicar especial atenção a sua Judith fugindo com a cabeça do sujeito, quando for ao Pitti novamente este ano.

Antes de irmos embora, paramos na lojinha, onde comprei 6 cartões com imagens do teto do Uffizzi, que são um show à parte. Minha ideia é fazer um painel horizontal com eles. Só não tenho a menor ideia de onde vou pendurá-los, pois os souvenires da viagem do ano passado já ocupam todas as paredes. Também comprei um livro do Uffizzi e do Caravaggio, meu querido!

Ao sair, novamente um dilúvio. Esperamos alguns minutos até dar uma aliviada. Fomos pra Piazza della Signoria e ficamos fotografando as réplicas de estátuas famosas. De repente, outro dilúvio. Todos foram se abrigar junto das estátuas e o lugar ficou mega lotado. Mas a vantagem é que (neste dia, pelo menos), com a mesma rapidez com que a chuva chega, ela vai embora. Assim que a estiada veio, saímos na direção do Accademia. No meio do caminho, paradinha estratégica pra uma fatia de pizza e una copa de vino rosso. As meninas pediram penne ao pesto.

Depois do "pré-almoço", vimos algumas lojinhas de souvenires ali perto e chegamos 14h em ponto no Accademia. Mesmo com o ingresso caro pra um museu relativamente pequeno, vale a pena pagar os 14 euros pra ver aquela tribuna linda com os Prisioneiros e o David ao fundo. Assim como no ano passado, a Nandi pregou que aquela era uma obra totalmente "comercial" e que não representava em nada a grandeza do mestre Michelangelo. Concordo que os Prisioneiros são o máximo, mas, enquanto ignorante em Artes que sou e, totalmente suscetível aos apelos comerciais, não tenho como não amar o David.

Desta vez, eu estava convicta na intenção de tirar uma foto dessas obras. Como a Adriana também estava, ficamos pensando diversas estratégias, até porque a câmera dela é daquelas profissionais e nada discretas. A fiscal deve ter sacado nossos planos maléficos porque resolveu ficar olhando fixamente pra gente, junto com uma outra que nos checava de tempos em tempos. Resolvemos ir pro fundo da tribuna, onde não tinha nenhum chato por perto e mandamos ver nas fotos (sem flash, obviamente). Ficaram um pouco tremidas (medo de tomar uma escovada dos italianos), mas a ideia era apenas registrar o momento e, isso, conseguimos.

Olhando o David, a Cristina fez um comentário bem pertinente. Falou que dá uma certa ansiedade admirar pessoalmente essas obras que a gente passou a vida inteira vendo só em livros. A sensação é que se tem de guardar cada detalhe pra se lembrar depois, porque aquele momento é muito especial e pode não se repetir. Concordei plenamente com ela e me lembrei do livro "Comer, Rezar e Amar", onde a autora relatava a história de uma amiga, que, ao chegar em um lugar muito lindo, ficava angustiada com a dúvida de se algum dia ainda voltaria ali. Ela esforçava muito pra convencer a amiga da ideia de que, afinal de contas, já estar ali era um momento de felicidade. Era "O" momento. Acho que todo turista encantado sente um pouco isso. Ou seja, todo turista que vai à Itália, pois é impossível não se encantar por aqui. É a antecipação da saudade que a gente já sabe que sentirá.

Depois de ver mais algumas obras, fomos embora pra feirinha de San Lorenzo, pois queríamos aproveitar a estiada da chuva. Mas foi só entrar em outra loja que outro temporal desabou. Acabamos comprando os casacos de couro que queríamos naquela loja mesmo, com um brasileiro chamado Átila, morador de Firenze há dez anos. Como não dava nova estiada, acabei enfrentando o aguaceiro em busca de algumas echarpes. Pois foi só o tempo de eu ensopar do joelho pra baixo e a chuva parou de vez naquele dia.
Terminamos de ver a feirinha sob um sol delicioso e resovemos almoçar, pois já eram 17:30 da tarde. Acabamos indo no Nuti novamente, pois era ali perto e as meninas queriam provar alguns pratos que haviam visto no outro dia. Tomei uma sopa chamada Ribollita, feita de vegetais e pão, seguida por um risoto de camarão. Não preciso dizer mais nada, né? Mais tarde, o Nelson me explicou que eu havia comido o que são considerados dois primo piatti e não um primo e um secondo. Pois, tudo bem, afinal primo + primo dá quase uma família. O importante é manggiare!

Amanhã, vou a Assis. As meninas, a Roma.

Bacione!

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