No Domingo, não acordamos muito cedo, ainda nos recuperando
da noite em claro no avião. Na verdade, essa recuperação está sendo uma parte
difícil pra mim. Talvez graças à empolgação com a viagem ou talvez devido aos
muito cappuccinos, Morfeu não tem sido um amigo muito próximo. Confesso que,
diante de duas madrugadas insones, o encantamento inicial que eu havia sentido pelas
badaladas suaves de sino tocadas a cada quinze minutos na igreja mais próxima
diminuíram bastante.
Mas haverá muito tempo pra descansar depois, portanto, em
torno das 10 horas, já estávamos preparados para sair. Encontramos Monica na
sala do Bed and Breakfast e, depois de algumas orientações de última hora, ela
e Eduardo travaram uma animada conversa em Italiano sobre a situação difícil
deste país.
Tomamos nossa prima colazione num bar próximo ao Night and
Day, também de propriedade da Monica, que faz as vezes do segundo “B” de Bed
& Breakfast. Ela foi dignamente composta de cappuccino com croissant de
chocolate, mais uma garrafa de água “gasata”.
Nosso roteiro inicial compreendia uma série de atrações e
seria muito difícil conseguirmos visitar todos os lugares que havíamos
planejado, mas o lema é sempre tentar, mas nunca com stress. Partimos, então,
pra Igreja Santa Maria della Vittoria, a menos de 10 minutos de caminhada, onde
poderíamos ver uma das esculturas mais famosas do mestre Bernini, “Êxtase de
Santa Tereza”.
Não foi difícil encontrar a igreja, que fica no mesmo
quarteirão da Fontana di Mosè, que depois conferimos no guia, em contraste com
a perfeição de formas do “Êxtase”, foi
considerada uma tentativa mal sucedida de Prospero Bresciano ou Leonardo
Sormani para recriar a força do Moisés de Michelangelo. Bem, muito cá entre
nós, eu achei tão linda... L
Já na Igreja de Santa Maria della Vittoria, ainda que a
escultura de Santa Tereza não estivesse à vista da entrada, a aglomeração de
turistas na capela lateral esquerda, próxima ao altar já denotava sua
localização.
E lá estava ela, ainda mais bonita do que o meu livro de
História da Arte da faculdade sugeria, com seus lábios entreabertos, braços
pendentes, olhos fechados e, a sua frente, o anjinho com expressão curiosa,
empunhando as flechas que trespassavam o peito da santa em êxtase. Lemos,
depois, que se tratava da escultura preferida do Bernini, absolutamente toda
trabalhada por ele.
O teto da igreja, bem como todas as outras capelas, era tão
suntuosamente adornado quanto se pode esperar de uma obra prima barroca. De
autoria do arquiteto Carlo Maderno, responsável por boa parte das fachadas de
igrejas importantes da mesma época, repetia um efeito que percebemos tanto na
Igreja de Santo Ignacio, quanto na Igreja de Gesú. Em todas elas, há parte das figuras
feitas no relevo, quase como se fossem esculturas pintadas. Além disso, há
várias esculturas integradas às molduras douradas, como se os querubins
estivessem de fato voando, por entre a estrutura física da igreja.
Seguimos pela Via Quirinale nos depararmos com um cruzamento
com quatro fontes. Nem eu, nem Eduardo havíamos ouvido falar dessas que
justificavam o nome da rua por que passávamos, chamada de Via delle Quattro
Fontane. Esse é um dos grandes baratos de Roma. É tanta coisa linda, que você
pode se surpreender nos lugares que menos imagina.
Logo mais à frente, passamos por um jardim muito simpático.
Diferentemente da maior parte das atrações que visitamos até agora, havia
poucas pessoas desfrutando daquele domingo primaveril, de clima delicioso, com
céu impecavelmente azul. Uma rápida conferida no guia e pronto! Descobrimos que
estávamos nos Giardini Quirinale.
Seguindo mais à frente, chegamos ao destino com que havíamos
decidido fechar a primeira parte do passeio, o Pallazzo Barberini. Foi outra maravilha
de que não tínhamos ouvido falar e abrigava nada menos do que obras de Rafael e
do meu querido Caravvaggio. Pra completar nossa sorte, o museu fazia 60 anos e
estava comemorando com entrada franca. Só ouvimos o idioma italiano a nossa
volta, confirmando que o Pallazzo Barberini e suas abelhas (um dos símbolos da
família) era mais popular entre os locais do que entre os turistas.
O Pallazzo Barberini fica muito próximo do Night and Day e
decidimos dar uma passada no B&B pra pegarmos o mapa de indicações de
restaurantes próximos que a Monica havia nos dado. Ao descermos a Via Rasella,
vimos um grupo de americanos parados em frente a um prédio recuado. Não parecia
haver nada de especial com o lugar, mas o Eduardo conseguiu ouvir um pouco do
que o guia falava e percebeu se tratar de algum evento acontecido durante a II
Guerra. Já no quarto, munidos de conexão wifi, o danado pesquisou no Trip
Advisor e descobriu que, na Via Rasella, alemães e italianos travaram um
combate em que os alemães dispararam contra os prédios e muitas marcas de bala
podem ser vistas até hoje. Esse episódio se desdobrou numa chacina, onde, em
retaliação às baixas alemãs na batalha, 355 italianos foram presos em catacumbas
para serem deixados à morte. Obviamente, fizemos uma paradinha estratégica do
almoço pra eu fazer meu registro desse local histórico.
Depois do sítio dramático, subimos em direção à Villa
Borguese por meio da sofisticada Via Veneto. Acabamos encontrando um
restaurante não tão caro, onde comi uma salada, seguida de pizza, acompanhados
de Frascati, enquanto o Eduardo pediu uma massa com frutos do mar. Fechei a
refeição com um cappuccino que me faria acompanhar as badaladas do sino da
madrugada e seguimos para o parque.
Como era Domingo, pudemos ver os romanos aproveitando seu
lugar ao sol. E que lugar! Seguimos por uma via que chegaria à Galeria Borguese
e confirmamos com muita tristeza o que a Monica havia nos antecipado.
Dificilmente conseguiríamos ingressos pra ver as tão maravilhosas obras de
Bernini e Caravvaggio abrigadas por esse museu tão espetacular. Dito e feito!
Ingressos esgotados até sexta-feira, quando já nem estaremos mais em Roma. Não
havia me preocupado com isso porque, em 2010, eu apenas comprei as entradas algumas
horas antes de entrar no museu e achei que a situação fosse se repetir. Ponto
fraco do planejamento, mas não se pode ganhar todas!
Curamos nossa “mágoa” passeando mais um pouco sob o sol
generoso da Villa Borguese, até o Belvedere, onde tiramos fotos da Piazza Del Poppolo
e descemos as escadas até a praça e a própria igreja de Santa Maria Del Poppolo,
onde conseguimos admirar a espetacular crucificação de São Pedro, de
Caravvaggio.
O dia ainda estava longe de terminar! Determinados em ver ainda
naquele dia a Basilica de São Pedro, seguimos em linha reta (ou tanto quanto
possível) até o Vaticano e entramos sem problema na Capital da Santa Igreja
Católica.
Constatamos que as maiores igrejas que vimos correspondem a
uma única capela dessa impressionante Catedral e tentamos passar, ao menos, pelas
obras mais importantes, pois já estávamos próximos de 19 h, quando o lugar
fecha para a visitação.
Saindo dali, andamos um pouco pela Via della Conciliazione e
seguimos em direção ao Castelo Sant´Angello, que já estava fechado. Sem
problemas! Seguimos pela Ponte dos Anjos, em direção à Piazza Navona, onde
tínhamos a indicação de uma ótima trattoria para o jantar. Serviço honesto e
comida típica deliciosamente italiana, sem ser pra turista. Perfecto!
Sei lá como, ainda tivemos ânimo de andar (sim, ANDAR) até a
Termini, passando pela Piazza della Reppublica.
Nossa intenção era comprar as passagens a Campobasso no dia
seguinte, onde faríamos uma aventura pra investigar o passado da família
Gaspari, sobrenome da bisavó do Eduardo, na pequena cidade de Portocannone. Chegamos
depois de 23h no Night and Day e o trem sairia às 6:15 do dia seguinte. Dio mio!
Foi justamente durante a viagem de trem a Campobasso (3:30 cada perna) que a maior
parte deste post foi escrito (por isso tão grande), mas esse relato completo
fica pra próxima.
Uffa!
Bacione.

Amei!!!! mandei um email pra vcs anteontem com um as dicas...
ResponderExcluirDivirtam-se por mim!!!!