No dia anterior, já havíamos combinado de encontrar a Nandi
na Chiesa Santa Croce e suas inúmeras obras e sepulturas ilustres, como as de
Michelangelo, Galileu e Maquiavel.
Acabamos marcando um horário no fim da manhã e, como o tempo
não estava muito bom, decidimos ir a outro museu antes: a maravilhosa Capela
dos Medici. Lá, pude conferir novamente a espetacular Noite e Dia, além de
Amanhecer e Anoitecer, ambas de Michelangelo.
Consegui passar pela feira di San Lorenzo sem comprar uma
única echarpe sequer (Brava!!) e fomos pra Santa Croce, onde a Nandi já nos
esperava na Piazza, próximo à estátua de Dante.
Mesmo já tendo a melhor guia de todas, resolvemos
complementar o riquíssimo passeio com as explicações do audioguia, que foi
alugado pelo Eduardo. Quem o atendeu na recepção foi uma italiana alta, de
olhos azuis e sorridente demais pro meu gosto!
Entramos na minha igreja preferida de Florença e nos
detivemos em cada obra, onde os três puderam ouvir a narração do audioguia:
Eduardo com o fone principal e eu e Nandi, cada uma com uma das orelhas do
headphone do iPhone plugado no original. Depois, obviamente, nossa guia
principal complementava com informações ainda mais importantes.
A parte mais interessante, além de ver os monumentos onde
repousam os restos mortais de alguns dos maiores ícones do Renascimento, foi
ver as capelas de Giotto e seus discípulos. Santa Croce é uma igreja
franciscana e Giotto um dos artistas preferidos dessa Ordem, tendo inclusive
afrescado toda a Basílica de São Francisco de Assis. É muito impressionante
ver, como diz a Nandi, o início da arte genuinamente ocidental, nascendo nas
obras desse mestre que assombrou o século XIV e marcou a História da Arte para
sempre.
Outro destaque de Santa Croce é o púlpito espetacular de
Giovanni da Maiano que, conforme dito no audioguia, não trazia as tradicionais
escadas de acesso a arrematar sua composição. Para que lhe fosse dada máxima
leveza, o arquiteto criou escadas dentro da coluna que o suportava, com uma
porta de entrada na parte de trás do púlpito. O trabalho é de uma riqueza de
detalhes e, ao mesmo tempo, uma delicadeza inacreditáveis.
Também vimos a Anunciação de Donatello, feito em pedra
serena. Apesar de lindo, é de um rigor de causar espanto ao lembrarmos que esse
é o mesmo autor da minha querida Madalena,feita no século XIV e, até hoje, tão
moderna e ousada. No entanto, a Nandi explicou que aquela era uma obra do
início da carreira do mestre, enquanto a obra que brilha no Opera Del Duomo
representa uma fase posterior e mais arrojada do artista.
Vimos também o museu e as fotos que mostram o estrago feito
na enchente de 1966, quando a água atingiu a impressionante altura de 5 metros
e destruiu inúmeras obras em toda a cidade. Nandi contou que os religiosos, no
afã de tentar salvar algumas pinturas, cortaram-nas das molduras e
enrolaram-nas, levando-as pra patamares mais altos, a salvo da água. No
entanto, imaginando que dessa forma as protegeriam melhor da chuva, colocaram
as faces pintadas voltadas pra dentro. O craquelamento que isso provocou,
aliado à umidade da chuva causou danos muitas vezes irreversíveis.
Despedimo-nos de nossa amiga guia pra encontrá-la e ao
Nelson mais tarde, quando todos jantaríamos uma pizza em comemoração ao seu
aniversário, que seria no dia seguinte.
Eu e Eduardo partimos em direção ao Il Magnifico, em cujas
proximidades pretendíamos almoçar e depois seguir a Piazzale Michelangelo e San
Miniato al Monte, que ficava naquela mesma margem do rio Arno.
Depois do almoço, feito no Bar Negrone, resolvemos pegar um
casaco pro Eduardo no B&B. Foi a sorte, pois desandou uma chuva forte, que
nos fez esperar quase duas horas até sairmos novamente. Aproveitamos pra dar
uma descansada,pois o dia anterior tinha sido puxado e ainda tínhamos muito
pela frente. Acordamos com um céu mais limpo e caminho livre pra Piazzale
Michelangelo.
Andamos no simpático trajeto do rio até a praça, brincando
de adivinhar quem eram nossos compatriotas antes que ouvíssemos o Português.
Era fácil! As mulheres de cabelos longos e lisos, quase sempre com um dos
itens: legging e tênis, casaco de couro e lenço de seda. Os homens, quase
sempre, com os sapatênis vendidos na Mr. Cat, calça jeans e jaqueta. Parece
muito banal descrevendo assim, mas sei lá por que, é muito fácil de sacar a
nacionalidade brasileira.
Chegando ao topo, pudemos admirar a mais linda vista da
cidade. Depois, fomos até San Miniato al Monte, que fica muito próximo e nova
chuva desandou. Foi o tempo de visitarmos aquela que é a mais antiga igreja de
Firenze, em seu estilo românico, com três patamares. Infelizmente, não tivemos
a sorte de assistir aos cantos gregorianos que pude apreciar em 2011. Partimos,
então, para o jantar comemorativo de aniversário da nossa amiga.
Encontramos Nandi e Nelson na Piazza della Signoria e
acabamos decidindo voltar à outra margem do rio, na pizzeria Antico Santo
Espirito, onde eu havia comido duas vezes em 2011 e me recordava da excelente pizza.
A praça de Santo Espirito estava repleta de gente, mas
apesar do restaurante estar super cheio, conseguimos lugar facilmente. Foi uma
comemoração deliciosa e merecida para a querida Nandi, com deliciosas pizzas,
vinho pra mim e Nelson (o da casa estava mais gostoso do que o Chianti que
pedimos primeiro), cerveja pra Eduardo e Nandi, além de licores e, obviamente,
muita boa conversa.
Andamos com nossos amigos até o ponto de ônibus, cruzando
novamente ida e volta o rio Arno (acho que poderia fazê-lo umas mil vezes sem
cansar, de tão lindo aquele lugar!), até que paramos pra admirar o Porccelino.
Dizem que ao passar a mão no focinho do bicho, volta-se a Firenze, mas eu
preferi manter minha própria tradição. Nunca fiz isso porque sempre está lotado
de gente. Consegui voltar duas vezes e quero retornar muitas outras mais,
portanto, nada de carinho no focinho do javali, mesmo estando vazio naquela
noite!
De volta ao B&B, rápida arrumação de malas, pois, outro
momento melancólico se aproximava. No dia seguinte, arrivederci, Firenze!

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