Acordamos às 5 horas da manhã, pois o trem para Campobasso,
sairia às 6:15, da Termini. Esse foi um ponto particularmente difícil, tendo em
vista que ouvi os sinos da igreja até as 3 da manhã, mais ou menos. No entanto,
ainda que tonta de sono, a adrenalina fez com que eu já estivesse pronta às
5:30 pra sair, bem como o Eduardo.
Andamos do Night and Day até a estação Barberini e, duas
paradas depois, já saltávamos na Termini. O trem ficava numa plataforma um
pouco mais distante e só tinha 3 vagões. Logo que partimos, o Eduardo percebeu
que se tratava de um trem diferente, de motor a diesel. O troço sacudia pra
burro e me deixou entre tonta e enjoada na maior parte da viagem. Mas, como o
trajeto durava 3 horas e meia, aproveitei pra escrever o que pude do post
anterior.
Ao chegarmos a Campobasso, o próximo passo era encontrar a
locadora Maggiore, onde o Eduardo já havia reservado um Fiat 500, pra viagem
até Portocannone. Ainda não havíamos comido nada, então paramos num dos
primeiros bares que vimos para um cappuccino. Lá, o Eduardo aproveitou pra
pedir informações sobre a rua onde estava indicada no endereço da reserva, mas
qual não foi a nossa surpresa, quando nenhum dos 3 residentes que estavam no
bar conheciam sua localização!
Um deles, que depois se apresentou como Giulio, pediu o
papel onde havia a reserva, procurando um telefone, mas lá não havia.
Discutindo mais um pouco entre eles, chegaram à conclusão de que a Maggiore deveria
ficar num bairro mais novo de Campobasso e, dito isso, um deles lembrou-se do
que achou ser a locadora.
Giulio, então, fez questão de nos conduzir pessoalmente até
o local. Este foi o primeiro italiano gentilíssimo que nos ajudou ao longo de
todo o dia, como perceberíamos mais tarde.
Em 10 minutos de caminhada, estávamos em frente à Maggiore.
Ao longo do caminho, Giulio fez algumas sugestões sobre o roteiro que
poderíamos fazer. Indicou um passeio até o Castelo Monforte e três igrejas
(!!!) que o rodevam. Todos ficavam num bairro medieval, bem no alto da cidade,
num local que podíamos avistar do ponto onde estávamos.
Despedimo-nos agradecendo imensamente a inestimável
gentileza e entramos na locadora, onde uma mocinha loura, de olhos azuis bem
grandes e cabelo totalmente fashion nos atendeu. Seu nome era Antonieta e
parecia já estar nos aguardando, pois logo adivinhou o nome do Eduardo.
Depois de breves orientações, levou-nos à “machinna” que já
estava no pátio. O Fiat Cinquecento preto era uma graça e até agora nos
arrependemos de não termos tirado uma foto pra registro.
Seguimos pro Castelo Monforte com o Eduardo dirigindo como
se já soubesse onde era, pois se eu sofro com uma total desorientação espacial,
ele parece ter nascido com um GPS de fábrica.
Paramos na base do bairro medieval e seguimos andando pelos
labirintos e becos, até chegarmos à primeira igreja. De estilo românico, era
bem simpática, com um leão grotesco esculpido em um de seus adornos.
Logo em seguida à segunda igreja, passamos por uma ladeira
cercada de árvores com pequenas placas de homenagem a mortos da II Guerra,
quando a cidade foi palco de uma feroz batalha entre tropas alemãs contra
italianos e canadenses.
A dica de Giulio foi muito boa, pois o panorama do castelo e
de toda a planície valeu a pena o passeio. Do ponto onde estávamos, era
possível avistar campos a perder de vista. Antes de irmos, o Eduardo já tinha
adiantado que o azeite Colavita, bem comum no Rio de Janeiro, era produzido
naquela região. Assim, deduzimos que muitos daqueles campos deveriam estar
cheios de oliveiras.
Outra curiosidade interessante a respeito da região que,
obviamente, é contribuição do meu culto namorado, é a origem do nome “del
paese”. Ocorreu que a ocupação original aconteceu no topo da cidade, ao redor
do castelo Monforte. Mais tarde, no século XVIII, a população passou a se
espalhar para a base do monte. Essas áreas mais baixas tornaram-se referência
para o nome da cidade, que se tornou Campobasso.
Terminado o rápido tour, partimos pro destino de fato, que
seria Portocannone. Afinal, a intenção da viagem era descobrir o que fosse
possível a respeito da família Gaspari, no local de nascimento de uma das
bisavós do Eduardo.
Diante da noite mal dormida (foi mais uma cochilada do que
outra coisa), cabeceei a viagem inteira enquanto o Eduardo foi dirigindo,
ouvindo música italiana e curtindo a paisagem. Como ele mesmo acrescentou, a
ideia de alugar um carro dá uma dimensão road movie ao roteiro.
A sinalização mal feita nos fez perder o ponto de entrada
pra Portocannone, de maneira que a dúvida sobre se almoçaríamos lá ou em
Termoli, uma cidade costeira próxima, foi resolvida. Seguimos pra Termoli, onde
conhecemos o mar Adriático e comemos ótimos pratos de massa e carne no Don
Giovanni, cujas boas recomendações no Trip Advisor já tinham sido pesquisadas
pelo Eduardo.
Pedimos orientações mais certeiras sobre a maneira mais prática
de retornar a Portocannone. Aqui vale ressaltar a clara estranheza de todos,
quando mencionávamos a intenção de ir àquele pequeno povoado. Assim como
Giulio, o dono9 do Don Giovanni, perguntou “Mas o que vocês vão fazer em
Portocannone?!!!”. No entanto, uma vez explicado, todos concordavam que a razão
era muito justa.
Depois de entendido o caminho seguimos ao nosso inusitado
destino, passando rapidamente por uma outra cidade chamada Campomarino. O
relato do que se seguiu, vou deixar pro próprio Eduardo...
“Ao chegarmos, fomos diretamente
à prefeitura a fim de pesquisar os documentos de nascimento da mãe da vovó. Que
frustração! O papel afixado na porta informava que a prefeitura apenas
reabriria no dia seguinte.
A visão dos dois forasteiros pasmos e detidos à
porta da prefeitura por tantos minutos motivou um dos funcionários a sair de
sua casa do outro lado da rua e indagar a razão da nossa visita. Relatado o
motivo, sem demora nos convidou a entrar.
Fomos calorosamente recebidos por
colegas seus que trabalhavam em uma sala. Mostrei a todos copia do documento da
mãe da vovó. Ora, Gaspari, sim era um dos nomes locais. Logo telefonaram para
um Gaspari, o Donato, perfeito homônimo do avô da vovó. Alguns minutos
depois chegávamos à casa do Donato e de
sua esposa Clara. Uma espaçosa moradia de 3 andares onde vivem com os 3 filhos,
Antonia, Rita e Gaetano, alem de um pastor alemão de 13 anos, o Rolf. São camponeses
no trato afável e espontâneo.
Incrivelmente feliz com a visita, Donato
contou que sua mãe nascera no Brasil, em local que, segundo ele, tinha o nome
de Macaco. E que ele se chamava Donato, por ser um prenome de tradicional
repetição na família. Esses fatos foram suficientes para se concluir o
parentesco que foi então brindado com um
drinque de narancia rossa (iguaria!).
Donato trouxe fotos de parentes
descendentes emigrados para os Estados Unidos e, mais recentemente, Canadá. Um
dos americanos, inclusive, foi Mr. Universo, com troféu agraciado pelo Arnold Schwartzenneger
(!!!), relatou um Donato orgulhoso, nos mostrando as fotos autografadas por uma
espécie de Stallone.
Depois, lamentaram a brevidade de
nossa passagem pelo paese. Era preciso ficar pelo menos 3 dias para conhecer
todos os parentes! Convidaram Ana Paula e eu a voltarmos no próximo ano para
passarmos o Dia de Pentecostes com eles. Nesse dia, o paese realiza a
tradicional corrida de carroças de boi, o orgulho da população conjuntamente ao
dialeto Alberesh.
O tempo apertava pois tínhamos de
devolver o carro em Campobasso e pegar o trem rumo a Roma. Despedimo-nos com a
promessa de regresso.
Chegamos em Roma às 23:00. Dia
longo e memorável.”

Nossa incrível!!!
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