quinta-feira, 16 de maio de 2013

13 de maio - rumo a Portocannone


Acordamos às 5 horas da manhã, pois o trem para Campobasso, sairia às 6:15, da Termini. Esse foi um ponto particularmente difícil, tendo em vista que ouvi os sinos da igreja até as 3 da manhã, mais ou menos. No entanto, ainda que tonta de sono, a adrenalina fez com que eu já estivesse pronta às 5:30 pra sair, bem como o Eduardo.

Andamos do Night and Day até a estação Barberini e, duas paradas depois, já saltávamos na Termini. O trem ficava numa plataforma um pouco mais distante e só tinha 3 vagões. Logo que partimos, o Eduardo percebeu que se tratava de um trem diferente, de motor a diesel. O troço sacudia pra burro e me deixou entre tonta e enjoada na maior parte da viagem. Mas, como o trajeto durava 3 horas e meia, aproveitei pra escrever o que pude do post anterior.

Ao chegarmos a Campobasso, o próximo passo era encontrar a locadora Maggiore, onde o Eduardo já havia reservado um Fiat 500, pra viagem até Portocannone. Ainda não havíamos comido nada, então paramos num dos primeiros bares que vimos para um cappuccino. Lá, o Eduardo aproveitou pra pedir informações sobre a rua onde estava indicada no endereço da reserva, mas qual não foi a nossa surpresa, quando nenhum dos 3 residentes que estavam no bar conheciam sua localização!

Um deles, que depois se apresentou como Giulio, pediu o papel onde havia a reserva, procurando um telefone, mas lá não havia. Discutindo mais um pouco entre eles, chegaram à conclusão de que a Maggiore deveria ficar num bairro mais novo de Campobasso e, dito isso, um deles lembrou-se do que achou ser a locadora.

Giulio, então, fez questão de nos conduzir pessoalmente até o local. Este foi o primeiro italiano gentilíssimo que nos ajudou ao longo de todo o dia, como perceberíamos mais tarde.
Em 10 minutos de caminhada, estávamos em frente à Maggiore. Ao longo do caminho, Giulio fez algumas sugestões sobre o roteiro que poderíamos fazer. Indicou um passeio até o Castelo Monforte e três igrejas (!!!) que o rodevam. Todos ficavam num bairro medieval, bem no alto da cidade, num local que podíamos avistar do ponto onde estávamos.

Despedimo-nos agradecendo imensamente a inestimável gentileza e entramos na locadora, onde uma mocinha loura, de olhos azuis bem grandes e cabelo totalmente fashion nos atendeu. Seu nome era Antonieta e parecia já estar nos aguardando, pois logo adivinhou o nome do Eduardo.

Depois de breves orientações, levou-nos à “machinna” que já estava no pátio. O Fiat Cinquecento preto era uma graça e até agora nos arrependemos de não termos tirado uma foto pra registro.
Seguimos pro Castelo Monforte com o Eduardo dirigindo como se já soubesse onde era, pois se eu sofro com uma total desorientação espacial, ele parece ter nascido com um GPS de fábrica.

Paramos na base do bairro medieval e seguimos andando pelos labirintos e becos, até chegarmos à primeira igreja. De estilo românico, era bem simpática, com um leão grotesco esculpido em um de seus adornos.





Logo em seguida à segunda igreja, passamos por uma ladeira cercada de árvores com pequenas placas de homenagem a mortos da II Guerra, quando a cidade foi palco de uma feroz batalha entre tropas alemãs contra italianos e canadenses.



A dica de Giulio foi muito boa, pois o panorama do castelo e de toda a planície valeu a pena o passeio. Do ponto onde estávamos, era possível avistar campos a perder de vista. Antes de irmos, o Eduardo já tinha adiantado que o azeite Colavita, bem comum no Rio de Janeiro, era produzido naquela região. Assim, deduzimos que muitos daqueles campos deveriam estar cheios de oliveiras.






Outra curiosidade interessante a respeito da região que, obviamente, é contribuição do meu culto namorado, é a origem do nome “del paese”. Ocorreu que a ocupação original aconteceu no topo da cidade, ao redor do castelo Monforte. Mais tarde, no século XVIII, a população passou a se espalhar para a base do monte. Essas áreas mais baixas tornaram-se referência para o nome da cidade, que se tornou Campobasso.
Terminado o rápido tour, partimos pro destino de fato, que seria Portocannone. Afinal, a intenção da viagem era descobrir o que fosse possível a respeito da família Gaspari, no local de nascimento de uma das bisavós do Eduardo.

Diante da noite mal dormida (foi mais uma cochilada do que outra coisa), cabeceei a viagem inteira enquanto o Eduardo foi dirigindo, ouvindo música italiana e curtindo a paisagem. Como ele mesmo acrescentou, a ideia de alugar um carro dá uma dimensão road movie ao roteiro.

A sinalização mal feita nos fez perder o ponto de entrada pra Portocannone, de maneira que a dúvida sobre se almoçaríamos lá ou em Termoli, uma cidade costeira próxima, foi resolvida. Seguimos pra Termoli, onde conhecemos o mar Adriático e comemos ótimos pratos de massa e carne no Don Giovanni, cujas boas recomendações no Trip Advisor já tinham sido pesquisadas pelo Eduardo.



Pedimos orientações mais certeiras sobre a maneira mais prática de retornar a Portocannone. Aqui vale ressaltar a clara estranheza de todos, quando mencionávamos a intenção de ir àquele pequeno povoado. Assim como Giulio, o dono9 do Don Giovanni, perguntou “Mas o que vocês vão fazer em Portocannone?!!!”. No entanto, uma vez explicado, todos concordavam que a razão era muito justa.
Depois de entendido o caminho seguimos ao nosso inusitado destino, passando rapidamente por uma outra cidade chamada Campomarino. O relato do que se seguiu, vou deixar pro próprio Eduardo...

“Ao chegarmos, fomos diretamente à prefeitura a fim de pesquisar os documentos de nascimento da mãe da vovó. Que frustração! O papel afixado na porta informava que a prefeitura apenas reabriria no dia seguinte.

 A visão dos dois forasteiros pasmos e detidos à porta da prefeitura por tantos minutos motivou um dos funcionários a sair de sua casa do outro lado da rua e indagar a razão da nossa visita. Relatado o motivo, sem demora nos convidou a entrar.








Fomos calorosamente recebidos por colegas seus que trabalhavam em uma sala. Mostrei a todos copia do documento da mãe da vovó. Ora, Gaspari, sim era um dos nomes locais. Logo telefonaram para um Gaspari, o Donato, perfeito homônimo do avô da vovó. Alguns minutos depois  chegávamos à casa do Donato e de sua esposa Clara. Uma espaçosa moradia de 3 andares onde vivem com os 3 filhos, Antonia, Rita e Gaetano, alem de um pastor alemão de 13 anos, o Rolf. São camponeses no trato afável e espontâneo.

 Incrivelmente feliz com a visita, Donato contou que sua mãe nascera no Brasil, em local que, segundo ele, tinha o nome de Macaco. E que ele se chamava Donato, por ser um prenome de tradicional repetição na família. Esses fatos foram suficientes para se concluir o parentesco que foi  então brindado com um drinque de narancia rossa (iguaria!).

Donato trouxe fotos de parentes descendentes emigrados para os Estados Unidos e, mais recentemente, Canadá. Um dos americanos, inclusive, foi Mr. Universo, com troféu agraciado pelo Arnold Schwartzenneger (!!!), relatou um Donato orgulhoso, nos mostrando as fotos autografadas por uma espécie de Stallone.

Depois, lamentaram a brevidade de nossa passagem pelo paese. Era preciso ficar pelo menos 3 dias para conhecer todos os parentes! Convidaram Ana Paula e eu a voltarmos no próximo ano para passarmos o Dia de Pentecostes com eles. Nesse dia, o paese realiza a tradicional corrida de carroças de boi, o orgulho da população conjuntamente ao dialeto Alberesh.



O tempo apertava pois tínhamos de devolver o carro em Campobasso e pegar o trem rumo a Roma. Despedimo-nos com a promessa de regresso.

Chegamos em Roma às 23:00. Dia longo e memorável.”

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