Por algum motivo insano das companhias ferroviárias
austríacas e italianas, não há trem entre Veneza e Viena. Esse foi o motivo
pelo qual tivemos de pegar um ônibus até Villach, na Áustria e, de lá o trem
pra Viena. Nada propriamente complexo, pois ambos pertencem à mesma empresa, a
OBB, e o intervalo foi adequado pra tudo.
Tanto a viagem de ônibus, quanto a de trem, tiveram por
cenários campos tão precisamente verdes que me fizeram ter vontade de
incorporar a Julie Andrews e sair cantando “The hiiiiiiills are
aliiiiiiiveeeeee... and the sound is muuuuuuuuuuuusic”. As casas eram tão
perfeitamente pintadas que pareciam ter saído da reforma no dia anterior.
No trem, como ainda não havíamos almoçado, fomos ao vagão
restaurante (bem ao estilo Jesse e Celine, em Before Sunrise). Comemos
sanduíches de prosciutto e queijo com cerveja austríaca encenando
gastronomicamente a transição de fronteiras Itália - Áustria por que estávamos
passando.
Depois de uma viagem bem longa (saímos de Veneza às 14:00 e
chegamos em Viena às 21:00) e por se tratar de um país cujo idioma não dominávamos,
resolvemos pegar um táxi na chegada à estação de Viena.
O motorista foi bastante solícito e, ao parar no local em
que deveríamos saltar, resolveu estacionar o carro pra conferir se era naquele
lugar mesmo. Achei isso um pouco estranho e depois, eu e Eduardo suspeitamos
que ele deve ter achado aquele endereço esquisito demais pra estar
certo.
Chegamos numa entrada bem escura e totalmente diversa do estilo impecável que
depois conhecemos ser o de Viena. Estranhamos um pouco, mas no
painel do interfone, constava direitinho o aviso do nosso Bed & Breakfast,
que se chamava “Arabella Guesthouse”. Interfonamos, abriram a porta e fomos pro
6º andar, onde, ao sairmos do elevador, já demos de cara com uma porta aberta. Fui
entrando, como fiz em todos os B&B até então e dei de cara com uma cozinha
com cheiro fortíssimo de sopa de legumes e carne e um quarto que era um
verdadeiro furdúncio.
Meio sem entender que lugar era aquele, sorri meio sem graça
pra uma senhora de cabelos muito escuros, olhos muito azuis e que sorria de
volta com seus 4 dentes. Perguntei “I´m sorry! Is
this Arabella Guesthouse?”. Ela continuou sorrindo com uma certa cara de
interrogação e, do fundo do apartamento sombrio, apareceu um sujeito mistura de
Shrek com soldado da SS e balbuciou algumas palavras que deram a entender meu
nome. Ele queria saber se eu era Ana Paula Mauro. Eduardo confirmou ele indicou
um apartamento ao lado do seu, o que nos fez respirar aliviados. Não, não era
no muquifo onde eles moravam o lugar em que nos hospedaríamos.
Entramos num pequeno quitinete, observando a decoração do
lugar e imaginando como alguém poderia reunir tanta coisa feia num mesmo local.
O destaque era pra um quadro sombrio que ficava logo acima da cama e que
tratamos de tirar da parede assim que Shrek, ou melhor, Michael, nos deixou
sozinhos.
Pouco antes de sair, ele conseguiu nos explicar que Arabella
estaria no dia seguinte lá, a partir das 9h e que deveríamos pagar em cash.
Além disso, o sujeito nos deu um mapa, onde apontou com uma unha imunda as indicações anotadas por Arabella, em
inglês, dos locais principais. Deu-nos também a chave do apartamento, que era a
mesma da entrada do prédio.
Saímos para jantar e, encontramos poucas opções abertas na
Mariahilfer, que era a rua mais movimentada por perto. Muitas cadeias de fast
food e de kebabs, mas nenhum restaurantezinho simpático. Acabamos encontrando
uma rede que depois vimos em muitos lugares, chamada Wein & Co, onde comemos
sanduíches e batatas fritas. Eduardo tomou água com gás e eu aproveitei o tema
do lugar pra tomar vinho tinto.
Voltamos meio ressabiados de retornar à caverna do Shrek,
mas foi tudo tranquilo.
Vale adiantar que foi uma chegada um pouco traumática, mas
que não representou nada do que vimos em Viena depois. A cidade se revelou
linda e adorável, mas pra quem vinha das maravilhas da Itália, foi uma recepção
e tanto!

relato maravilhoso, como sempre!
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